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segunda-feira, 21 de agosto de 2017

O assessor de segurança do presidente Jimmy Carter : “Eu criei o terrorismo jihadista e não me arrependo!”

Por Nazanín Armanian *

“Que é mais importante para a história do mundo? O Talibã ou o colapso do império soviético?” É a resposta de quem foi o assessor de segurança do presidente Jimmy Carter, Zbigniew Brzezinski, à pergunta da revista francesa Le Nouvel Observateur, de 21 de Janeiro de 1998, sobre as atrocidades que cometem os jihadistas de Al-Qaeda. Uma arrepiante falta de ética de indivíduos como ele que destroem a vida de milhões de pessoas para alcançar os seus objectivos.
Nesta entrevista, Brzezinski confessa outra realidade: que os jihadistas não vieram do Paquistão para libertar a sua pátria dos ocupantes infiéis soviéticos, mas que seis meses antes da entrada do exército vermelho no Afeganistão, os EUA puseram em marcha a Operação Ciclone a 3 de Julho de 1979, enviando 30.000 mercenários armados, inclusivamente com mísseis Tomahawk, para o Afeganistão, com o intuito de arrasar o país, difundir o terror, derrubar o governo marxista do Doutor Nayibolá e montar uma armadilha à URSS: convertê-lo no seu Vietname. E conseguiram. À sua passagem, violaram milhares de mulheres, decapitaram milhares de homens e provocaram a fuga de cerca de 18 milhões de pessoas dos seus lares, quase nada. Caos que continua até hoje.
Esta foi a pedra angular em que assenta o terrorismo “jihadista” e a que Samuel Huntington deu cobertura teórica com o seu Choque de Civilizações. Conseguiram, assim, dividir os pobres e deserdados do Ocidente e Oriente, fazendo com que se matassem no Afeganistão, Iraque, Jugoslávia, Iémene, Líbia e Síria, confirmando as palavras Paul Valéry: “A guerra é um massacre entre gentes que não se conhecem, para proveito de gentes que se conhecem mas não se massacram.”
Conseguiram, pois, neutralizar a oposição de milhões de pessoas às guerras e converter em ódio a empatia. Com o método nazi de “uma mentira repetida mil vezes converte-se numa verdade”:
·         O atentado de 11 de Setembro não o cometeram os talibãs afegãos. A CIA, em 2001, tinha implicado o governo da Arábia Saudita no massacre. Porquê, então, os EUA invadiram e ocuparam o Afeganistão?

·         As armas de destruição maciça o Iraque não as tinha. O único país do Próximo Oriente que as possui, e de forma ilegal, é Israel e graças aos EUA e à França.

·         Tão-pouco os EUA necessitavam invadir o Iraque para deitar a mão ao petróleo. Demolir o Estado iraquiano tinha vários motivos, como eliminar um potencial inimigo de Israel e ocupar militarmente o coração do Próximo Oriente, convertendo-se em vizinho do Irão, Arábia Saudita e Turquia.

·         As cartas com antrax que, nos EUA, mataram 5 pessoas, em 2001, não as enviou Saddam Husein como jurava Colin Powell, mas Bruce Ivins, biólogo dos laboratórios militares de Fort Derrick, Maryland, que “se suicidou” em 2008.

·         Ocultaram a (possível) morte de Bin Laden, agente da CIA, até à pantomina organizada a 1 de Maio de 2011 por Obama, no assalto hollywoodesco dos SEAL a um domicílio em Abottabad, apesar da ex-primeira ministra do Paquistão, Benazir Bhutto ter afirmado, a 2 de Novembro de 2007, que o saudita tinha sido assassinado por um possível agente do M16 (porventura em 2002). Benazir foi assassinada quase um mês depois desta revelação. Manter “vivo” Bin Laden durante 8 a 9 anos serviu aos EUA para aumentar o orçamento do Pentágono (de 301 mil milhões de dólares, em 2001, para 720 mil milhões, em 2011), incrementar os contratos de armas com a Boeing, Lockheed Martin, Raytheon, etc., e vender milhões de aparelhos de segurança e câmaras de vídeo vigilância, montar prisões ilegais pelo mundo, legitimar e legalizar o uso da tortura, praticar assassinatos selectivos e colectivos (chamados “danos colaterais”) e concederem a si mesmos o direito exclusivo de invadir e bombardear o país que desejarem.

Uma vez testados no Afeganistão, a NATO enviou estes “jihadistas” para a Jugoslávia com o nome de Exército de Libertação do Kosovo e depois para a Líbia, pondo-lhes o nome de Ansar al Sharia e para a Síria onde primeiro lhes chamou “rebeldes” e, depois, lhes deu outros cinco ou seis nomes diferentes. Nesta corporação terrorista internacional, a CIA encarrega-se do treino, a Arábia Saudita e o Quatar da “caixa automática”, como disse o ministro alemão do Desenvolvimento, Gerd Mueller, e a Turquia, membro da NATO, acolhe, treina e trata os homens do Estado Islâmico. Os mesmos países que formam a “coligação anti-terrorista”.
Como é que dezenas de serviços de informação e exércitos de cerca de 50 países, meio milhão de efectivos da NATO instalados no Iraque e no Afeganistão, que gastaram milhares de milhões de dólares e euros na “guerra mundial contra o terrorismo” durante 15 largos anos, não puderam acabar com uns milhares de homens armados com espada e adaga da AL-Qaeda?


Assim fabricaram o Estado Islâmico
Síria, finais de 2013. Os neocon aumentam a pressão sobre o presidente Obama para enviar tropas para a Síria e necessitam um casus belli. O veto, no Conselho de Segurança, da Rússia e da China a uma intervenção militar, ausência de uma alternativa capaz de governar o país uma vez derrubado ou assassinado o presidente Assad, o temor a uma situação caótica na fronteira de Israel, eram parte dos motivos de Obama a negar-se. Contudo, o presidente e os seus generais perdem a batalha e os sectores mais belicistas do Pentágono e da CIA, o Quatar, a Arábia Saudita, a Turquia e os meios de comunicação afins assaltam a opinião pública com imagens de decapitações e violações cometidas por um certo Estado Islâmico. Quando o mundo aceita que “há que fazer algo” e não ter a autorização da ONU para atacar a Síria, o Pentágono, bombeiro pirómano, desenha uma engenharia militar especial:
1.    Transfere em Junho de 2014 um sector do Estado Islâmico da Síria para o Iraque, país sob o seu controle, deixando que ocupe tranquilamente 40% do país a aterrorizar cerca de 8 milhões de pessoas, a matar milhares de iraquianos, a violar mulheres e raparigas.

2.    Organizou uma poderosa campanha de propaganda sobre a crueldade do Estado Islâmico, semelhante à que fizeram com as lapidações dos talibãs às mulheres afegãs e, assim, poder “libertar” aquele país. Até a eurodeputada Emma Bonino caiu no embuste, encabeçando a luta contra a burka, olhando o dedo em vez da lua!

3.    Afirmou que, ao instalar-se o quartel-general dos terroristas na Síria, deviam atacar a Síria.

4.    Obama demitiu de forma fulminante o primeiro-ministro iraquiano Nuri al Maliki, por opor-se ao uso do território iraquiano para atacar a Síria.

5.    Objectivo conseguido: os EUA puderam, por fim, bombardear ilegalmente a Síria, a 23 de Setembro de 2014, sem tocarem nos “jihadistas” do Iraque. Graças ao Estado Islâmico, hoje os EUA (e França, Grã-Bretanha e Alemanha) contam com bases militares na Síria, pela primeira vez na sua história, donde poderão controlar toda a eurásia. A Síria deixa de ser (depois da queda da Líbia em 2001pela NATO) o único país do Mediterrâneo livre de bases militares dos EUA.

6.    E o surpreendente é que, desde esta data até Julho de 2017, o Estado Islâmico mantém ocupado o norte do Iraque sem que dezenas de milhares de soldados dos EUA tenham feito absolutamente NADA. Por fim, o exército iraquiano e as milícias estrangeiras chiitas libertam Mossul, isso sim, cometendo terríveis crimes de guerra contra os civis.

O terrorismo na estratégia do “Império do Caos”
O terrorismo “jihadista” cumpre 4 funções principais para os EUA: militarizar a atmosfera nas relações internacionais, em prejuízo da diplomacia; arrebatar as conquistas sociais, instalando estados policiais (os atentados de Boston, de Paris e inclusivamente o de Orlando) e uma vigilância a nível mundial; ocultar as decisões vitais aos cidadãos; fazer de buldózer, aplanando o caminho da invasão das suas tropas em determinados países e provocar o caos, e não como meio mas como objectivo em si.
Se durante a Guerra Fria Washington mudava os regimes na Ásia, na África e na América Latina mediante golpes de Estado, hoje para ajoelhar os povos indomáveis, recorre a bombardeamentos, envia esquadrões da morte, impõe sansões económicas, para matá-los, debilitá-los, deixá-los sem hospitais, água potável e alimentos, com o fim de que não levantem a cabeça durante gerações. Assim, converte poderosos Estados em Estados falidos, para se moverem sem impedimentos pelos seus territórios sem governo.
Os EUA que, desde 1991, são a única superpotência mundial, têm sido incapazes de manter o controlo dos países invadidos, devido ao surto de outros actores e alianças regionais que reivindicam o seu lugar no mundo novo.
E como não come nem deixa comer, os EUA decidiram, provocando o caos, sabotar a criação de uma ordem multipolar que tenta gerir-se a si mesma; debilita os BRICS, conspirando contra Dilma Russef e Lula no Brasil; impede uma integração económica na eurásia, proposta pela Rússia à Alemanha mas arquivada com a guerra na Ucrânia e mina o projecto chinês da Nova Rota da Seda e de uma integração geoeconómica da Ásia-Pacífico, que cobriria dois terços da população mundial. Em contrapartida, cria alianças militares como a “NATO sunita” e organizações terroristas com o propósito de afundar o Próximo Oriente em longas guerras de religião.
Anunciar que desenhou um plano para a “mudança de regime” no Irão, um imenso e povoado país, perante a dificuldade de uma agressão militar, significa que porá em marcha uma política de desestabilização do país, mediante atentados e tensões étnico-religiosas. A mesma política que pode aplicar à Coreia do Norte, Venezuela ou Bolívia e a outros da sua lista do “Eixo do Mal” e todos os meios para perpetuar a sua absolutista hegemonia global. Que tentasse derrubar o seu aliadoTayyeb Erdogan é o cúmulo da intolerância. Antes dos trágicos atentados na Catalunha, o Estado Islâmico atacou a aldeia afegã de MIrza Olang. Encheu várias valas comuns com pelo menos 54 cadáveres de mulheres e homens e três meninos decapitados e levou umas 40 mulheres e meninas para violá-las.
Conclusão: o “jihadismo” não é fruto da exclusão dos muçulmanos nem sequer se trata da lógica dos vasos comunicantes e regresso dos “terroristas que criámos no Oriente”. “A vossa causa é nobre e Deus está convosco”, disse Zbigniew Brzezinski às suas criaturas, os jihadistas.

20 de Agosto de 2017

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* “Deixei metade da minha vida nas minhas terras persas e, quando aterrei nesta península de acolhimento, amada plataforma de exigência de pão e paz para todos, pus-me a exercer o desconcertante ofício de exilado: conhecer, aprender, admirar, transmitir, revelar e denunciar. Estes últimos aproveitando as aulas na universidade, os meios de comunicação e uma dezena de livros como “Robaiyat de Omar Jayyam” (DVD ediciones, 2004), “Kurdistán, el país inexistente” (Flor del viento, 2005), “Irak, Afganistán e Irán, 40 respuestas al conflicto de Oriente Próximo” (Lengua de Trapo, 2007 y “El Islam sin velo” (Bronce, 2009)”.


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