Juan Francisco Martín Seco publicou, em Fevereiro de 2013, o livro com o título “Contra el Euro. Historia de una ratonera” (Contra o euro. História de uma ratoeira). O autor é um dos economistas que, ao longo dos últimos 25 anos, tem alertado para a armadilha que nos vêm estendendo com o chamado projecto europeu e, mais concretamente, a constituição da União Monetária.
O excerto, retirado do
capítulo 6 intitulado “Culpables”
(Culpados), traduz a raiva de quem sabe que o imenso sofrimento, infligido à
grande maioria da população, poderia ter-se evitado e que os culpados, não só
continuam impunes, como ainda lucram com a crise que provocaram.
Martín Seco descreve, nesta
passagem, a situação espanhola, que é, inteiramente, a de Portugal ou Grécia.
E, se nada acontecer, outros se nos juntarão, tal como nós nos juntámos àqueles
de que menos se fala – os países do Leste da Europa, apenas com a Ucrânia a
escapar, até há poucos dias. (A Rússia será um osso mais duro de roer...).
É que a globalização do
capital financeiro, iniciada no século XIX, tem, agora, necessidade de se virar
para os países de origem, visto estar a ser escorraçada de muitas das colónias
dos restantes continentes, da China à América Latina.
Não se trata já de mais uma
crise passageira, mas de um processo de autofagia, em que o capitalismo deixou
de investir na produção, limitando-se a devorar as suas próprias entranhas, o
que prenuncia o seu fim.
A história diz-nos que a
ganância capitalista é capaz das maiores atrocidades. Resta saber se os povos
compreenderão a disjuntiva “socialismo ou barbárie”, equacionada há quase um século por Rosa Luxemburgo, ou se se deixarão arrastar para mais uma longa noite de escravidão e
obscurantismo.
“A
sociedade espanhola vive, hoje, numa situação dramática. Na história recente, é
difícil encontrar semelhanças. Submeteu-se a grande maioria da população a
múltiplos sacrifícios e privaram-na dos direitos laborais e sociais
conquistados ao longo de décadas. Os cidadãos viram como se reduzia
substancialmente o seu poder de compra. E tudo isso de repente.Passou-se da
euforia económica à depressão. Muitos temem pelo seu posto de trabalho, pelo
dos seus familiares, pelas suas pensões; duvidam de que os seus rendimentos se
mantenham na mesma quantia, de que, no futuro, possam contar, como até agora,
com cuidados de saúde gratuitos ou que os seus filhos tenham, em matéria de
educação, as mesmas oportunidades de que eles disfrutam. Já existe mais de um
milhão de famílias que carece de qualquer resdimento e cuja situação se torna,
de dia para dia, mais desesperante. Há quem se veja obrigado a viver dos pais,
dos irmãos. Aumenta, em progressão geométrica, o número daqueles que têm de
acudir à caridade das ONG, perante a paralisia do Estado e a demissão das suas
obrigações que, na Constituição, parecem ter uma finalidade de mero adorno. Os
pequenos comerciantes sentem sobre a sua cabeça a ameaça de encerramento, ao
ver como o consumo se reduz todos os dias, situação agravada por leis tão
injustas como a da liberdade de horários comerciais, o que permite a concorrência
ilícita das grandes superfícies.
O
primeiro sentimento da sociedade espanhola foi o de surpresa. Num brese lapso
de tempo, viu como a sua vida e as suas expectativas não param de se alterar,
sem ver com clareza qual o motivo. As pessoas não entendem. Fala-se-lhes da
crise com carácter quase mitológico, como uma praga bíblica; do euro, da taxa
de juro da dívida, de Merkel, de Draghi e do BCE. Depois da surpresa chegam a
angústia e o medo, porque nem nos piores pesadelos imaginavam que iam viver uma
situação económica como a actual. Depois, a indignação. (...) A crispação, a
irritação, estendem-se a grande parte dos cidadãos, sejam eles de direita ou de
esquerda. A raiva, excepto em sectores reduzidos, ainda não se converteu em
violência, entre outras razões porque, nas sociedades ocidentais, depois de
muitos anos de relativo conforto, os cidadãos esqueceram-se desse exercício.”
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