Os amigos de Portugal
Que relação haverá entre
Jean-Claude Juncker, eleito Presidente da Comissão Europeia com os votos do
PS-PSD-CDS, a máfia Espírito Santo e o austericídio imposto pela UE e FMI?
Para a resposta correcta,
damos uma ajuda com dados retirados de várias publicações que indicamos no fim
do artigo. Trataremos as três partes da equação separadamente, começando pelo
austericídio das troikas – PS-PSD-CDS e Comissão Europeia-Banco Central Europeu-Fundo
Monetário Internacional.
Nos últimos 3 anos, temos, entre
outros crimes:
- Mais 2 milhões de pobres.
- 160 mil trabalhadores com
contratos de 200 euros de salário.
- 412 mil desempregados sem
subsídio de desemprego.
- 440 mil postos de trabalho
destruídos. Só em 2013, 18.800 empresas foram à falência.
- 500 mil salários e 181 mil
reformas penhoradas por as famílias terem entrado em situação de pobreza
absoluta.
- 150 mil família perderam a
casa.
- 300 mil famílias deixaram
de ter electricidade e 12 mil água por não poderem pagar.
- 40 mil abonos de família
cortados.
- 60 mil (30%) complementos
solidários para idosos cortados.
- 350.504 pessoas saíram do
país, das quais 128.108 em 2013.
- 600 mil funcionários
públicos com salário reduzido em 25%
- Mais a contribuição
extraordinária de solidariedade, mais a sobretaxa no IRS, mais o aumento da
taxa para a Segurança Social e ADSE, mais o aumento do IVA, mais o aumento do IMI,
mais o aumento do IUC, mais o aumento do IRS por via da redução dos escalões, e
mais... mais... mais... mas, menos IRC para as empresas com maiores lucros, as
do PSI 20 e bancos.
Entretanto, a dívida vai
crescendo, para contentamento das troikas que, com esse pretexto, podem
continuar a exigir mais cortes, transferindo a riqueza do país para as mãos dos
banqueiros, todos da laia dos Espírito Santo, com os lacaios fascistóides do
governo a fazer o trabalho sujo.
A
máfia Espírito Santo
O relatório do Banco
Espírito Santo de 2011 dizia terem-se registado “progressos importantes ao
nível das reformas estruturais, num ambiente de estabilidade política e
social”, destacando “as alterações no mercado de trabalho”, “a reforma no
mercado de arrendamento”, “o programa de privatizações, o fim das golden shares, uma nova lei da
concorrência de acordo com a prática europeia, a reforma do sector dos
transportes, a introdução de regras mais concorrenciais nas telecomunicações e
na electricidade”.
Esta satisfação corresponde
ao facto de os criados de serviço estarem a cumprir exactamente o que o patrão
lhes exigia. Ex.: Fim das golden shares,
como a que o Estado detinha na Portugal Telecom, ficando, assim, a
administração com as mãos livres para roubar 900 milhões à empresa e
entregá-los ao Grupo Espírito Santo.
Em 11 de Maio de 2013, o
delinquente Ricardo Salgado ordenava aos seus lacaios, através da TSF, que “os
salários têm que continuar a descer”. E
os lacaios obedeceram, com muito gosto, sabendo que o patrão dá boas gorjetas.
Cavaco Silva, quando 1º ministro,
reprivatizou o Banco Espírito Santo e a Seguradora Tranquilidade, que haviam
sido nacionalizados, após o 25 de Abril, e postos ao serviço do país. Não será
por acaso que indivíduos ligados ao BES têm sido ou mandatários ou
coordenadores para a juventude da campanha presidencial de Cavaco.
Passos Coelho entrega a EDP
aos chineses, assessorados pelo BES, depois de ter recebido telefonemas,
registados, de José Maria Ricciardi. Com informação privilegiada e a
cumplicidade do governo de Passos Coelho, o Grupo Espírito Santo negoceia em
bolsa acções da EDP e REN, antes de ser público o valor das propostas das
respectivas privatizações. Catroga, por exemplo, recebeu um bom prémio com a
privatização da EDP e vamos conhecendo os contornos de mais vigarices - caso
Monte Branco, ligado à privatização daquelas duas empresas.
Miguel Frasquilho, enquanto
deputado do PSD e vice-presidente da comissão parlamentar aprovou (votos contra
do PCP e BE) os processos de privatização da EDP e REN, com enormes lucros para
os Espírito Santo. Recompensa: um alto cargo no BES.
Governos do PS, PSD e CDS
fizeram parcerias com o Grupo Espírito Santo, com destaque para Jorge Coelho, o
grande socialista, que entregou à Ascendi, detida em 40% pelo Grupo Espírito
Santo e o restante pela Mota-Engil financiada pelo BES, as SCUTs, em contratos
ruinosos para o Estado (as PPPs), mas valendo bons tachos a quem lhes fez o
serviço. O grupo mafioso detém, ainda, participações maioritárias em concessões
rodoviárias e ferroviárias como as da Beira Interior, Via Litoral da Madeira,
Metropolitano Ligeiro da Margem Sul do Tejo, pontes 25 de Abril e Vasco da
Gama, auto-estradas e linhas ferroviárias do Grande Porto, Costa da Prata,
Beira Litoral, Beira Alta, Grande Lisboa, Douro Interior.
- Privatizações e swaps,
assim como a negociata com os submarinos ou pandures e, ainda, a subconcessão
dos Estaleiros de Viana do Castelo tiveram o BES como intermediário entre os
privados e os diferentes governos. A dívida pública também rende bons lucros ao
BES – em 2012, mais de 800 milhões ao vender, por preço superior, os títulos
comprados ao Estado. Mas, ministros como Pires de Lima são convidados para as
festanças na Herdade da Comporta, propriedade dos patrões Espírito Santo. Pena
é que, agora, já não haja como limpar o nome dos patrões e ter que ir à procura
de outros.
- Há, depois, umas
negociatas mais pequenas e que cheiram a financiamento ilegal de partidos.
Exemplo: Carlos Horta e Costa, secretário-geral do PSD no intervalo de presidir
aos CTT, vendeu um edifício desta empresa, em Coimbra, por 14,8 milhões à
Demagre que, no mesmo dia, revendeu por 20 milhões à ESAF-Espírito Santo
Activos Financeiros. Este caso está em tribunal desde Novembro de 2012. É
provável que não se apure a verdade, tal como sucede com o dinheiro que entrou
nos cofres do CDS, através de comissões na compra dos submarinos, transitadas
pelo Banco Espírito Santo.
Referimos, por fim, o facto de
o Grupo Espírito Santo deter várias instituições financeiras, além do BES: uma
nos EUA,, uma no Panamá, uma no Bubai, uma em Angola, uma em Espanha, outra na Suíça, todas
pertencentes às três holdings do Grupo, sedeadas no Luxemburgo.
Jean-Claude Juncker, o luxemburguês amigo de Portugal
Dizem os do PS-PSD-CDS que Juncker
é um grande amigo de Portugal e, por isso, votaram nele. Como até o PS, que não
pertence à mesma máfia, perdão, à mesma família política, diz que ele é amigo e
nós, a maioria do povo português, nunca demos por tal, muito pelo contrário,
quisemos saber o porquê desta unanimidade. Parece-nos que basta passar os olhos
pelo excepcional currículo do sucessor de Durão Barroso, que, de tão vasto,
daremos apenas alguns dados.
O senhor Juncker nunca
exerceu nenhuma profissão. É aquilo a que se chama político profissional, neste
caso, pela mão do Partido Popular Social-Cristão luxemburguês. Tem o primeiro
cargo governamental em 1982, como Secretário de Estado do Trabalho e Segurança
Social. Vai sendo promovido a Ministro, passando pela pasta das Finanças, onde
inicia a reforma tributária do país, transformando-o num paraíso fiscal. Em
1995 é 1º ministro, cargo que ocupa 18 anos consecutivos. Entretanto, presidiu
ao Conselho Económico e Financeiro europeu, destacando-se na criação do Tratado
de Maastricht, onde se delineou a moeda única e todos os constrangimentos
políticos, económicos e financeiros que levaram à perda de soberania de países
como Portugal.
Em 2005 é nomeado presidente
do Eurogrupo, de onde sai, em 2013, para passar à presidência da Comissão
Europeia.
Juncker tem estado presente
em todos os organismos europeus, onde bloqueia, sistematicamente, qualquer tentativa
de limitar o roubo feito aos Estados pelos paraísos fiscais.
Não se sabe tudo sobre estes
bloqueios, nem dos compromissos impostos por Juncker, pois as deliberações do
Conselho Europeu e de certas reuniões dos ministros das Finanças são mantidas
secretas, facto pelo qual o ex-primeiro ministro luxemburguês já se congratulou
publicamente.
Compreende-se que assim
seja, já que não quererá ver anulado o trabalho que teve ao transformar o
Luxemburgo no 2º país, depois dos EUA, com mais sociedades de fundos de
investimento (as famosas sociedades de investimento com capital variável,
SICAV, e os organismos de aplicação colectiva em valores mobiliários, OPCVM,
sendo, assim, o paraíso fiscal dos paraísos fiscais.
E não é de estranhar o apoio
que recebe daqueles que, a nível nacional, tudo fazem para permitir a saída de
capitais, branqueamento de dinheiro e fuga aos impostos, como é o caso notório
do Grupo Espírito Santo.
Juncker é o grande amigo
destes vigaristas todos, ao ter aberto o seu país a milhares de bancos
privados, fundos de investimento e holdings de grupos multinacionais, que não
pagam qualquer imposto sobre dividendos.
Exemplo: O BES encaminha o
dinheiro dos grandes clientes (com autorização deles, claro) para o Banque
Privée Espírito Santo, na Suíça (Suíça, onde pairam 30 mil milhões de euros de
portugueses, segundo o Banco Nacional suíço). Como aí há segredo bancário, a
identidade destes portugueses desaparece, ficando o dinheiro livre do pagamento
de imposto sobre o capital, no país de origem. Mas, como esse dinheiro rende
mais se for investido num fundo qualquer do que ficar parado numa conta
bancária, é, então, transferido para o Luxemburgo para uma das muitas
sociedades do Grupo, como a Espírito Santo International. Os dividendos da
aplicação em fundos de investimento, sobretudo de seguradoras, voltam a não
pagar impostos.
Às vezes as coisas não
correm bem e há, neste momento, alguns portugueses, coitados, que além de
vigaristas foram vigarizados pela Espírito Santo International que já abriu
falência.
Uma nota curiosa, mas
elucidativa, é o caso de ter circulado, no Parlamento Europeu, um fundo de
pensões, destinado aos eurodeputados. Soube-se depois que este fundo está
vinculado a um SICAV, com sede no Luxemburgo.
Entretanto o amigo Juncker
vai reinando na União Europeia e os seus cúmplices, a nível nacional, vão
impedindo que leis contra a evasão de capitais e fuga aos impostos sejam
aprovadas.
E, assim, quando se exige
salários dignos, protecção social, saúde, educação, eles podem dizer que não há
dinheiro e que não podemos viver acima das nossas possibilidades.
Todos muito amigos!
_________
Obras
consultadas:
Gabriel Zucman, A Riqueza Oculta das Nações,
Temas e Debates, 2014
Louçã, F., Lopes, J. T., Costa,
J., Os Burgueses, Bertrand, 2014
Gustavo Sampaio, Os Privilegiados, A Esfera dos Livros,
2013
Jornal Avante!, edições de Julho
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