O QUE ELES ESCONDEM

sexta-feira, 25 de julho de 2014


Os amigos de Portugal

Que relação haverá entre Jean-Claude Juncker, eleito Presidente da Comissão Europeia com os votos do PS-PSD-CDS, a máfia Espírito Santo e o austericídio imposto pela UE e FMI?
Para a resposta correcta, damos uma ajuda com dados retirados de várias publicações que indicamos no fim do artigo. Trataremos as três partes da equação separadamente, começando pelo austericídio das troikas – PS-PSD-CDS e Comissão Europeia-Banco Central Europeu-Fundo Monetário Internacional.

Nos últimos 3 anos, temos, entre outros crimes:
- Mais 2 milhões de pobres.

- 160 mil trabalhadores com contratos de 200 euros de salário.
- 412 mil desempregados sem subsídio de desemprego.

- 440 mil postos de trabalho destruídos. Só em 2013, 18.800 empresas foram à falência.
- 500 mil salários e 181 mil reformas penhoradas por as famílias terem entrado em situação de pobreza absoluta.

- 150 mil família perderam a casa.
- 300 mil famílias deixaram de ter electricidade e 12 mil água por não poderem pagar.

- 40 mil abonos de família cortados.
- 60 mil (30%) complementos solidários para idosos cortados.

- 350.504 pessoas saíram do país, das quais 128.108 em 2013.
- 600 mil funcionários públicos com salário reduzido em 25%

- Mais a contribuição extraordinária de solidariedade, mais a sobretaxa no IRS, mais o aumento da taxa para a Segurança Social e ADSE, mais o aumento do IVA, mais o aumento do IMI, mais o aumento do IUC, mais o aumento do IRS por via da redução dos escalões, e mais... mais... mais... mas, menos IRC para as empresas com maiores lucros, as do PSI 20 e bancos.
Entretanto, a dívida vai crescendo, para contentamento das troikas que, com esse pretexto, podem continuar a exigir mais cortes, transferindo a riqueza do país para as mãos dos banqueiros, todos da laia dos Espírito Santo, com os lacaios fascistóides do governo a fazer o trabalho sujo.

A máfia Espírito Santo
O relatório do Banco Espírito Santo de 2011 dizia terem-se registado “progressos importantes ao nível das reformas estruturais, num ambiente de estabilidade política e social”, destacando “as alterações no mercado de trabalho”, “a reforma no mercado de arrendamento”, “o programa de privatizações, o fim das golden shares, uma nova lei da concorrência de acordo com a prática europeia, a reforma do sector dos transportes, a introdução de regras mais concorrenciais nas telecomunicações e na electricidade”.

Esta satisfação corresponde ao facto de os criados de serviço estarem a cumprir exactamente o que o patrão lhes exigia. Ex.: Fim das golden shares, como a que o Estado detinha na Portugal Telecom, ficando, assim, a administração com as mãos livres para roubar 900 milhões à empresa e entregá-los ao Grupo Espírito Santo.
Em 11 de Maio de 2013, o delinquente Ricardo Salgado ordenava aos seus lacaios, através da TSF, que “os salários têm que continuar a descer”.  E os lacaios obedeceram, com muito gosto, sabendo que o patrão dá boas gorjetas.

Cavaco Silva, quando 1º ministro, reprivatizou o Banco Espírito Santo e a Seguradora Tranquilidade, que haviam sido nacionalizados, após o 25 de Abril, e postos ao serviço do país. Não será por acaso que indivíduos ligados ao BES têm sido ou mandatários ou coordenadores para a juventude da campanha presidencial de Cavaco.
Passos Coelho entrega a EDP aos chineses, assessorados pelo BES, depois de ter recebido telefonemas, registados, de José Maria Ricciardi. Com informação privilegiada e a cumplicidade do governo de Passos Coelho, o Grupo Espírito Santo negoceia em bolsa acções da EDP e REN, antes de ser público o valor das propostas das respectivas privatizações. Catroga, por exemplo, recebeu um bom prémio com a privatização da EDP e vamos conhecendo os contornos de mais vigarices - caso Monte Branco, ligado à privatização daquelas duas empresas.

Miguel Frasquilho, enquanto deputado do PSD e vice-presidente da comissão parlamentar aprovou (votos contra do PCP e BE) os processos de privatização da EDP e REN, com enormes lucros para os Espírito Santo. Recompensa: um alto cargo no BES.
Governos do PS, PSD e CDS fizeram parcerias com o Grupo Espírito Santo, com destaque para Jorge Coelho, o grande socialista, que entregou à Ascendi, detida em 40% pelo Grupo Espírito Santo e o restante pela Mota-Engil financiada pelo BES, as SCUTs, em contratos ruinosos para o Estado (as PPPs), mas valendo bons tachos a quem lhes fez o serviço. O grupo mafioso detém, ainda, participações maioritárias em concessões rodoviárias e ferroviárias como as da Beira Interior, Via Litoral da Madeira, Metropolitano Ligeiro da Margem Sul do Tejo, pontes 25 de Abril e Vasco da Gama, auto-estradas e linhas ferroviárias do Grande Porto, Costa da Prata, Beira Litoral, Beira Alta, Grande Lisboa, Douro Interior.

- Privatizações e swaps, assim como a negociata com os submarinos ou pandures e, ainda, a subconcessão dos Estaleiros de Viana do Castelo  tiveram o BES como intermediário entre os privados e os diferentes governos. A dívida pública também rende bons lucros ao BES – em 2012, mais de 800 milhões ao vender, por preço superior, os títulos comprados ao Estado. Mas, ministros como Pires de Lima são convidados para as festanças na Herdade da Comporta, propriedade dos patrões Espírito Santo. Pena é que, agora, já não haja como limpar o nome dos patrões e ter que ir à procura de outros.
- Há, depois, umas negociatas mais pequenas e que cheiram a financiamento ilegal de partidos. Exemplo: Carlos Horta e Costa, secretário-geral do PSD no intervalo de presidir aos CTT, vendeu um edifício desta empresa, em Coimbra, por 14,8 milhões à Demagre que, no mesmo dia, revendeu por 20 milhões à ESAF-Espírito Santo Activos Financeiros. Este caso está em tribunal desde Novembro de 2012. É provável que não se apure a verdade, tal como sucede com o dinheiro que entrou nos cofres do CDS, através de comissões na compra dos submarinos, transitadas pelo Banco Espírito Santo.

Referimos, por fim, o facto de o Grupo Espírito Santo deter várias instituições financeiras, além do BES: uma nos EUA,, uma no Panamá, uma no Bubai, uma em Angola, uma em Espanha, outra na Suíça, todas pertencentes às três holdings do Grupo, sedeadas no Luxemburgo.  

Jean-Claude Juncker, o luxemburguês amigo de Portugal

Dizem os do PS-PSD-CDS que Juncker é um grande amigo de Portugal e, por isso, votaram nele. Como até o PS, que não pertence à mesma máfia, perdão, à mesma família política, diz que ele é amigo e nós, a maioria do povo português, nunca demos por tal, muito pelo contrário, quisemos saber o porquê desta unanimidade. Parece-nos que basta passar os olhos pelo excepcional currículo do sucessor de Durão Barroso, que, de tão vasto, daremos apenas alguns dados.
O senhor Juncker nunca exerceu nenhuma profissão. É aquilo a que se chama político profissional, neste caso, pela mão do Partido Popular Social-Cristão luxemburguês. Tem o primeiro cargo governamental em 1982, como Secretário de Estado do Trabalho e Segurança Social. Vai sendo promovido a Ministro, passando pela pasta das Finanças, onde inicia a reforma tributária do país, transformando-o num paraíso fiscal. Em 1995 é 1º ministro, cargo que ocupa 18 anos consecutivos. Entretanto, presidiu ao Conselho Económico e Financeiro europeu, destacando-se na criação do Tratado de Maastricht, onde se delineou a moeda única e todos os constrangimentos políticos, económicos e financeiros que levaram à perda de soberania de países como Portugal.

Em 2005 é nomeado presidente do Eurogrupo, de onde sai, em 2013, para passar à presidência da Comissão Europeia.
Juncker tem estado presente em todos os organismos europeus, onde bloqueia, sistematicamente, qualquer tentativa de limitar o roubo feito aos Estados pelos paraísos fiscais.

Não se sabe tudo sobre estes bloqueios, nem dos compromissos impostos por Juncker, pois as deliberações do Conselho Europeu e de certas reuniões dos ministros das Finanças são mantidas secretas, facto pelo qual o ex-primeiro ministro luxemburguês já se congratulou publicamente.
Compreende-se que assim seja, já que não quererá ver anulado o trabalho que teve ao transformar o Luxemburgo no 2º país, depois dos EUA, com mais sociedades de fundos de investimento (as famosas sociedades de investimento com capital variável, SICAV, e os organismos de aplicação colectiva em valores mobiliários, OPCVM, sendo, assim, o paraíso fiscal dos paraísos fiscais.

E não é de estranhar o apoio que recebe daqueles que, a nível nacional, tudo fazem para permitir a saída de capitais, branqueamento de dinheiro e fuga aos impostos, como é o caso notório do Grupo Espírito Santo.
Juncker é o grande amigo destes vigaristas todos, ao ter aberto o seu país a milhares de bancos privados, fundos de investimento e holdings de grupos multinacionais, que não pagam qualquer imposto sobre dividendos.

Exemplo: O BES encaminha o dinheiro dos grandes clientes (com autorização deles, claro) para o Banque Privée Espírito Santo, na Suíça (Suíça, onde pairam 30 mil milhões de euros de portugueses, segundo o Banco Nacional suíço). Como aí há segredo bancário, a identidade destes portugueses desaparece, ficando o dinheiro livre do pagamento de imposto sobre o capital, no país de origem. Mas, como esse dinheiro rende mais se for investido num fundo qualquer do que ficar parado numa conta bancária, é, então, transferido para o Luxemburgo para uma das muitas sociedades do Grupo, como a Espírito Santo International. Os dividendos da aplicação em fundos de investimento, sobretudo de seguradoras, voltam a não pagar impostos.
Às vezes as coisas não correm bem e há, neste momento, alguns portugueses, coitados, que além de vigaristas foram vigarizados pela Espírito Santo International que já abriu falência.

Uma nota curiosa, mas elucidativa, é o caso de ter circulado, no Parlamento Europeu, um fundo de pensões, destinado aos eurodeputados. Soube-se depois que este fundo está vinculado a um SICAV, com sede no Luxemburgo.
Entretanto o amigo Juncker vai reinando na União Europeia e os seus cúmplices, a nível nacional, vão impedindo que leis contra a evasão de capitais e fuga aos impostos sejam aprovadas.

E, assim, quando se exige salários dignos, protecção social, saúde, educação, eles podem dizer que não há dinheiro e que não podemos viver acima das nossas possibilidades.
Todos muito amigos!

_________
Obras consultadas:

Gabriel Zucman, A Riqueza Oculta das Nações, Temas e Debates, 2014
Louçã, F., Lopes, J. T., Costa, J., Os Burgueses, Bertrand, 2014

Gustavo Sampaio, Os Privilegiados, A Esfera dos Livros, 2013
Jornal Avante!, edições de Julho

  

 

Sem comentários:

Enviar um comentário