O QUE ELES ESCONDEM

terça-feira, 19 de agosto de 2014


Informação aos associados do Montepio

por Eugénio Rosa [*]

Perante as noticias negativas divulgadas nos órgãos de comunicação social sobre o Montepio, muitos associados, por email ou mesmo por telefone, pediram-me informações sobre a situação da Caixa Económica porque estão preocupados pois têm as suas poupanças no Montepio. Por essa razão e também porque tenho a responsabilidade de prestar contas a todos que, confiando na Lista C que eu encabeçava, nos elegeram decidi elaborar este comunicado com o objetivo de informar os associados do Montepio.

Sou membro do Conselho de Supervisão da Caixa Económica – Montepio Geral e estou impedido, por lei, de divulgar a informação a que tenho acesso neste órgão (ela é confidencial). Por isso, vou utilizar apenas a informação que consta dos relatórios de contas de 2010, 2011, 2012 e 2013, assim como das contas do 1º Trimestre e do 1º Semestre de 2014 da Caixa Económica-Montepio Geral que são publicas e acessíveis a qualquer outra pessoa (estão disponíveis no "site" do Montepio) que, se for devidamente analisada e interpretada, permite compreender os problemas atuais que enfrenta a Caixa Económica-Montepio Geral. A dificuldade é que cada um desses documentos tem entre 400 a 500 páginas, é de difícil leitura, e a informação útil está dispersa e coberta por muita "palha" e é, por vezes, muito técnica e de difícil interpretação para quem não esteja familiarizado com ela. Para ajudar os associados a ficar a saber qual é a verdadeira situação da Caixa Económica elaboramos o quadro 1, com dados importantes das contas da Caixa Económica. Desta forma cada associada poderá ele próprio tirar as suas próprias conclusões sobre o que tem sido dito sobre a Caixa Económica e sobre a sua situação.

Quadro 1- Dados dos relatórios e contas da Caixa Económica-Montepio Geral


Quais são as conclusões mais importantes que se podem tirar dos dados das contas, que são públicas, da Caixa Económica – Montepio Geral que constam deste quadro?

 
O IMPACTO NEGATIVO DA AQUISIÇÃO DO FINIBANCO PELO MONTEPIO

Em primeiro lugar, para que o associado consiga interpretar corretamente os dados do quadro 1 precisa ter presente que o ano de 2011, é o ano da OPA da AM-MG sobre o Finibanco, portanto o ano de aquisição e da sua integração na Caixa Económica–MG, aquisição esta que nos opusemos tendo votado contra ela no Conselho Geral da Associação Mutualista, como na altura demos a conhecer a todos os associados. E é importante ter presente isso porque essa aquisição teve um impacto negativo grande no Montepio, ainda maior porque o país estava, e está, mergulhado numa grave crise económica e social com consequências muito grandes em todos os bancos

Observando os dados do quadro 1, constata-se que em 2011 (ano da OPA e de incorporação do FINIBANCO), o crédito concedido sem garantias disparou (entre 2010 e 2011, passou de 976 milhões € para 1.625 milhões €, ou seja +66,5%) , e as provisões/imparidades para fazer face a perdas no crédito concedido e em operações financeiras aumentaram de 603 milhões € para 878 milhões € (+45,6%). As consequências da aquisição são também visíveis a nível de custos e do produto bancário. Segundo os respetivos relatórios e contas, entre 2010 e 2011, os custos operacionais da Caixa Económica aumentaram de 246 milhões € para 369,1 milhões € (+50%), enquanto a Margem Financeira (diferença entre os juros recebidos e os juros pagos) subiu apenas de 270,9 milhões € para 318,7 milhões € (+17,6%), e o Produto da Atividade, ou Produto bancário que corresponde, grosso modo, ao valor acrescentado bruto da banca, aumentou de 422,3 milhões € para 564 milhões € (+33,7%). É visível o impacto negativo da aquisição do FINIBANCO nas contas da Caixa Económica, até porque o FINIBANCO era um banco com um perfil de risco muito mais elevado do que o da Caixa Económica e seria previsível que, com a persistência da atual crise, o incumprimento disparasse com consequências negativas para o Montepio, como se está a verificar. Em suma, a aquisição do Finibanco constituiu, a nosso ver, um erro grave de gestão, não criando valor para o Montepio, mas sim destruindo valor. Foi por estas razões, que a realidade veio depois confirmar, que votamos contra a sua aquisição.

 
OS PROBLEMAS DA CAIXA ECONÓMICA NÃO RESULTAM APENAS DO FINIBANCO

No entanto, não pensamos que os problemas atuais da Caixa Económica resultem apenas da aquisição do Finibanco. A crise atual está a ter também um impacto grande na Caixa Económica, como sucede com todas as instituições financeiras, o que agrava os problemas resultantes de uma gestão pouco adequada, e mesmo, a nosso ver, com erros graves. A prová-lo está, por ex., o disparar do crédito concedido sem garantias, cuja taxa de incumprimento é muto elevada e, depois, de muito difícil recuperação (reembolso). Como mostram os dados do quadro, entre 2010 e 2013, aumentou bastante tendo registado em 2012 uma quebra (entre 2011 e 2012, passou de 1625 milhões € para 1.445 milhões €), para novamente aumentar de uma forma muito rápida. Entre 2010 e 2013, o crédito sem garantias aumentou de 976 milhões € para 1.995 milhões € (atualmente dever ultrapassar largamente os 2.000 milhões €). E o risco deste crédito de não ser pago é muito mais elevado do que o restante crédito. Basta ter presente que, de acordo com o Relatório e Contas de 2012, dos 902,7 milhões € de imparidades (provisões) 253,3 milhões € (28%), diziam respeito a imparidades para "crédito sem garantias", quando este crédito representava apenas 8,5% do crédito total.

CONTRARIAMENTE AO QUE DIZEM OS BANQUEIROS AS IMPARIDADES SÃO GRAVES

Para disfarçar graves erros de gestão e para criar a ilusão de que a sua gestão está a enfrentar com êxito a grave crise económica, financeira e social que fez disparar o incumprimentos e baixar drasticamente o crédito, com consequências muito negativas na estabilidade do sistema financeiro, os banqueiros afirmam, perante um caso de falência de um grande cliente, ou do provável não reembolso de crédito concedido, como é o caso do grupo Espírito Santo, que tal não acarretará consequências para o seu banco, porque esse crédito já estava provisionado. Num entanto, " esquecem-se" de informar os acionistas, os associados ou clientes, o que significa criar uma provisão ou que é uma imparidade. Uma provisão ou uma imparidade é um custo que reduz os lucros (se o banco os tiver) ou aumenta os prejuízos (no caso de não ter lucros). Afirmar que isso não determina problemas para o banco porque esse crédito já está provisionado é ou tentar enganar a opinião pública ou então dão uma ideia de ignorância do que falam.

Foi precisamente pelo facto de ter de criar provisões/ imparidades para prováveis perdas elevadas de crédito concedido que os prejuízos da Caixa Económica dispararam tendo, fundamentalmente devido a isso, os prejuízos operacionais de 2012 e 2013 somado 540 milhões de euros (168 milhões € em 20'12 mais 372 milhões € em 2013). E só nesses dois anos as provisões/imparidades por prováveis perdas de crédito concedido (inclui também as resultantes de operações financeiras) somaram 629 milhões €, determinando os elevados prejuízos operacionais que a Caixa Económica – Montepio Geral teve nesses dois anos. E mesmo em 2014, só no 1º semestre, a Caixa Económica já teve de criar 293 milhões € de provisões/imparidades por perdas prováveis de crédito concedido, nomeadamente a empresas do grupo Espírito Santo que afetam os resultados do Montepio, anulando praticamente os elevados ganhos (mais-valias) que a Caixa Económica obteve no 1º semestre de 2014 (275 milhões € com operações financeiras – ver contas), nomeadamente resultantes da venda de divida publica portuguesa.

A aquisição do FINIBANCO assim como os elevados prejuízos da Caixa Económica em 2012 e 2013, obrigou a uma elevada recapitalização da Caixa Económica para que os rácios de capital fossem respeitados. Assim, entre 2010 e 2013, o chamado capital institucional da Caxa Económica sofreu vários aumentos tendo passado de 800 milhões € para 1500 milhões €, ou seja, aumentou em 700 milhões €. E este aumento de capital foi feito pela Associação Mutualista, ou seja, com o dinheiro que os 600 mil associados entregam a ela. E é esta a realidade que todos os associados devem saber. Para além deste dinheiro posto na Caixa Económica devido à compra do Finibanco e também por causa de elevados prejuízos, aqueles que adquiriram unidades de participação de 200 milhões € também contribuíram para a recapitalização da Caixa Económica.

AS MINHAS POUPANÇAS ESTÃO SEGURAS NA ASSOCIAÇÃO MUTUALISTA?

As minhas poupanças estão seguras na Associação Mutualista?

– É esta a pergunta que muitos associados me colocam e não quero fugir a ela. A Caixa Económica está umbilicalmente ligada à Associação Mutualista (quase 2/3 das poupanças dos associados colocadas na Associação Mutualista estão aplicadas na Caixa Económica) , e a Caixa Económica conseguiu até a este momento, e espero que aconteça no futuro (e eu estou empenhado nisso), absorver os efeitos negativos que esta grave crise económica, financeira e social está a ter em todas na instituições financeiras e, consequentemente, também na Caixa Económica assim como os erros de gestão cometidos, a meu ver, que referi anteriormente.

Mas para que isso aconteça é também necessário uma gestão mais profissional, e uma fiscalização mais eficaz não só por parte do Banco de Portugal sobre a Caixa Económica (que se esforça embora com atraso) e pelo Ministério da Solidariedade sobre a Associação Mutualista (que não faz) mas também pelos órgãos de fiscalização internos da Caixa Económica, nomeadamente pelo Conselho Geral e de Supervisão. E é importante que os associados saibam que da Lista C apenas eu estou neste conselho, sendo ele dominado pelos membros eleitos na lista A do presidente do conselho de administração do Montepio, que têm a maioria absoluta (dos 11 membros, apenas 3 não pertencem à lista A) que está sempre com o presidente.

Para que os associados possam ter uma ideia da cultura de autoritarismo do presidente que existe no Montepio basta relatar o seguinte episódio. Aquando da emissão dos 200 milhões € de unidades de participação, eu fiz uma informação aos associados que os esclarecia de aquele produto não garantia nem um rendimento certo (dependia dos lucros da Caixa Económica que têm sido reduzidos) nem estava garantido o reembolso da totalidade do capital investido (se o associado quiser obter o capital terá de vender as unidades de participação no mercado secundário e recebe o que for oferecido – em 17/8/2014 os 200 milhões € valiam 188 milhões € – ver Euronext –
europeanequities.nyx.com/... (o valor varia quase todos os dias). Por ter informado os associados, e após um ataque pessoal a mim pelo presidente todos aprovaram uma moção em que me ameaçavam com um processo no tribunal. Foi só quando disse que se avançassem com tal processo iria defender-me não só em tribunal mas também junto dos associados é que o bom senso acabou por imperar pois o risco reputacional era grande.


Este episódio mostra bem as dificuldades que enfrento. Embora minoritário não me vergam , como já me ameaçaram, e vou continuar a lutar para fiscalizar, e pela transparência e segurança das poupanças dos associados, recorrendo aos supervisores (ex.:BdP) sempre que julgar necessário. Para levar tal tarefa a bom porto necessito do apoio ativo dos associados, com que espero contar.

Saudações mutualistas e um abraço de consideração e amizade para todos.

 

18/Agosto/2014

 

[*] Membro do conselho geral do Montepio, da Assembleia Geral e do Conselho Geral e de Supervisão da Caixa Económica eleito na Lista C pelos associados.


Peço que enviem a vossa opinião para
eugeniorosa@zonmail.pt

Este artigo encontra-se em
http://resistir.info/ .

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