O QUE ELES ESCONDEM

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014


O CASO BPN OU O PAÍS DO FAR-WEST

 
O BPN incorporava a SLN, Sociedade Lusa de Negócios, constituída por mais de 200 empresas, que podem ser classificadas em três espécies:

 1 – As que geravam lucros;

2 – As que tinham prejuízos, por gestão incompetente;

3 – As que produziam, deliberadamente, prejuízos.

 O BPN, financiador de todas elas, absorvia a totalidade dos prejuízos. Mas, para esconder as vigarices, os génios do BPN, entre os muitos que abundam no nosso país, criaram um Banco, chamado “Insular de Cabo Verde” e até um outro com o mesmo nome, mas virtual, para esconder o volume astronómico de dinheiro passado aos amigos, que, em Novembro de 2008, ascendia a 700 milhões de euros.

 Em 2005, havia já suspeitas de o BPN estar envolvido em fraude fiscal e evasão de capitais. Por isso, a “Operação Furacão” levou os investigadores a fazer uma busca nas instalações do Banco, no dia 17 de Outubro de 2005.

Nada de nada. Tudo limpinho. Tinha havido fuga de informação e os documentos comprometedores estavam a salvo, segundo revelou, mais tarde, em 2011, uma testemunha do Ministério Público. Nessa altura, o DIAP já tinha  o processo arquivado desde 2007, por  “insuficiência de prova indiciária”.

 Desconfiava-se, há muito, que um Banco, relativamente pequeno, pudesse aumentar os seus lucros de 18 milhões, em 2000,  para 75 milhões, em 2006, “havendo indícios reiterados de práticas evasivas e negócios ruinosos, assim como um estado continuado de situações irregulares e casos danosos no banco”, segundo Miguel Cadilhe, que se interrogava, também, sobre a razão pela qual o Banco de Portugal não tinha averiguado a falta de resposta, do BPN, a 150 pedidos de esclarecimento.

 Por coinciência (esta malandra, sempre a meter-se onde não é chamada), o buraco sem fundo de branqueamento de capitais, gestão danosa, burla qualificada, falsificação de documentos e fraude fiscal foi sendo alargado durante os mandatos de Teixeira dos Santos e Vítor Constâncio à frente das entidades de supervisão bancária – CMVM e Banco de Portugal, respectivamente. O primeiro, de 2000 a 2005 e o último, de 2000 a 2009.

Em Novembro de 2008, Teixeira dos Santos, já ministro das Finanças do governo Sócrates, decide “nacionalizar” o Banco, depois de constatar que as várias injecções de dinheiro, nosso, feitas através da Caixa Geral de Depósitos e do Banco de Portugal (Constâncio ainda não tinha sido promovido a vice-presidente do BCE) apenas serviam para engrossar a bolha que ameaçava rebentar de vez, com a detenção de Oliveira e Costa em... Novembro de 2008.

Sabemos todos que esta  “nacionalização” abrangeu apenas o passivo do BPN e deixou os activos valiosos nas mãos dos accionistas da SLN, os mesmos que haviam desfalcado o Banco.

Agora, temos duas sociedades – a Parvalorem e a Parups -, destinadas a absorver o “lixo tóxico” do BPN e a guardar bem guardado os documentos relativos aos esquemas mafiosos, praticados durante anos.

Entretanto, a SLN, ou Galilei (foi apenas o nome que mudou...) vai de vento em popa, com contratos para superintender todas as comunicações de emergência em Portugal, ou empreender negócios como o da urbanização da Lagoa dos Salgados, no Algarve. Ou outros ainda mais rendosos, como veremos adiante.

Os espanhóis dizem que não acreditam em bruxas, mas que as há, há.

Nós também não acreditamos em bruxas, mas que elas vão aparecendo, vão. Neste caso, vêm em grupo uniforme, cor-de-laranja, dançando à volta de muitos milhões de euros.

 Há quem diga ser coincidência. Nós já referimos uma. E para não desgostar os crentes em bruxas e coincidências, aqui vai mais uma, ou umas, é à escolha:

 Alguns cavalheiros, pertencentes a este gangue, foram ministros do governo de Cavaco Silva: José Oliveira e Costa, Arlindo de Carvalho, Manuel Dias Loureiro. Este último, de especial confiança, já que nomeado para conselheiro de Estado e mantido nesse cargo pelo Presidente da República, Cavaco Silva, muitos meses depois de o escândalo do BPN ter rebentado.

 Soube-se, então, que este bom ex-ministro e conselheiro da pátria estava metido no roubo colectivo, de que faziam parte outros, menos conhecidos, mas envolvidos em negociatas como, por exemplo, levarem do BPN 19 milhões de euros para comprar um terreno, em Cascais, avaliado por menos de 4 milhões, ou 3,2 milhões para uns outros terrenos, em Almancil, onde supostamente iria aparecer um hotel, nunca autorizado.

 Na mesma altura, veio a lume a traficância de compra-venda de acções, mecanismo corrente no BPN, que drenou, desta forma, muito dinheiro para os bolsos de accionistas da SLN.

 Entre esses accionistas esteve, como é público, Cavaco Silva e a excelentíssima filha, de seu nome Patrícia.

 Em tribunal, o inspector tributário Paulo Jorge Silva, explicou bem explicado como o negócio entre aqueles dois e o BPN foi feito: Oliveira e Costa vendera a Cavaco Silva 100.360 acções e, à filha, 149.640, a 1 euro por acção. A perda para o Banco, nesta operação, foi de 1,10 euros em cada acção vendida.

 Um mês mais tarde, Cavaco Silva vende as mesmíssimas acções à mesmíssima SLN  por 2,40 euros cada acção. O lucro empochado foi de 147,5 mil euros para Cavaco e de 209,4 mil para Patrícia. O BPN perdeu, segundo contas do inspector-testemunha, 275 mil euros, nestas transacções.

 Não é muito, dirão alguns. É verdade, comparado aos 80 milhões que, segundo o DCIAP, Arlindo de Carvalho deve ao BPN, aquele é um roubo de pilha-galinhas.

 Também é verdade que Arlindo de Carvalho não tem a honra, como Cavaco tem, de partilhar a mesma rua, em vivendas principescas, na aldeia da Coelha, com os dois homens fortes da SLN, Fernando Fantasia e Oliveira e Costa.

 

EPÍLOGO

 
Em Maio de 2011, no pacto assinado entre a troika nacional e a estrangeira, ficou escrito que o BPN teria de ser vendido ou liquidado. Eram duas opções. Passos Coelho decidiu-se pela primeira, alegando que a liquidação do Banco ficaria muito cara aos portugueses.

Vejamos, então, como a “venda”  do BPN ao BIC ficou muito mais barata:

- Até 2012, a CGD injectou no BPN mais de 5.000 milhões de euros.

- Imediatamente antes da “venda”, foram transferidos para o BPN 1.000 milhões de euros.

- No acto de “venda”, foram entregues ao BIC 600 milhões.

- Em Março de 2012, a “venda” é concretizada por 40 milhões.

- Segundo a mais recente notícia, dada pela UTAU, saíram dos nossos bolsos para os do BIC mais 510 milhões de euros, durante o ano de 2013.

Mas, o que é este BIC? Não, não é a empresa de esferográficas. É algo muito mais rendoso para alguns portugueses e angolanos.

O BIC é propriedade, maioritariamente, de Isabel dos Santos, filha do Presidente de Angola, e de Américo Amorim, o senhor que passou para o 1º lugar na lista dos mais ricos de Portugal, em tempos de crise.

O presidente do BIC em Portugal é Mira Amaral, ex-ministro de Cavaco Silva (raio!, outra coincidência).

Mas, não, não é coincidência, são apenas as bruxas que, sem disfarce, nem vassoura, chegadas de Angola, aterraram em Lisboa e, nas festas de casamento por conveniência, mergulharam as mãos aduncas no caldeirão das privatizações, reprivatizações e mais negociatas mal-cheirosas.

Para que estes casamentos fossem perfeitos, os cônjuges portugueses, além de oferecerem ao BIC, como dote, o BPN, limpinho e escovado, ainda salvaguardaram a SLN, ou Galilei, como se chama agora, e que continua a fazer as suas boas negociatas. E as melhores, pasme-se!, estão em Angola, nos petróleos, sobretudo, mas também em coisas menores como cimentos, exploração de calcário e gesso ou empreendimentos imobiliários.

Em Angola, há quem prefira o casamento poligâmico, de modo a evidenciar a riqueza diamantífera e petroleira. Em Portugal, os candidatos a consorte são muitos e muitos já os escolhidos, desde a Formentinvest, do grupo de Ângelo Correia e onde Passos Coelho prestou serviço antes de ganhar as eleições, até Luís Montez, empresário de espectáculos e produções, genro de Cavaco Silva.

Neste momento, não é mais possível falar de coincidências ou bruxas.

Quando se está a destruir o país e a levar à miséria o seu povo, só podemos dizer que aqueles que tomaram o poder, em Portugal, são uns ganguesteres. E dizemos isto ainda com mais convicção, no momento em que estamos a ouvir a notícia sobre mais uma tentativa de roubo, o dos quadros de Miró.

Repetimos, são uns ganguesteres, que estão a pôr o país a saque e a enxovalhar-nos aos olhos do mundo inteiro.

 

Bibliografia consultada e com muito mais informação:

Virginia López, IMPUNIDADE, A Esfera dos Livros, 2013

Paulo de Morais, DA CORRUPÇÃO À CRISE – QUE FAZER?, Gradiva, 2013

Jorge Costa, João Teixeira Lopes, Francisco Louçã, OS DONOS ANGOLANOS DE PORTUGAL, Bertrand Editora, 2014.

 


 

 

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