OS
ECONOMISTAS IMPARCIAIS
Todos
os dias, um professor catedrático, um economista prestigiado, vem à televisão,
rádio e jornais tornar linear o que parecia uma equação irresolúvel, concluindo
que não há alternativa e que as medidas do governo trarão a felicidade a um
país próspero.
Os
mais cépticos, que desesparávamos a olhar o fundo cada vez mais negro do túnel
e a achar que a luz, avistada por alguns, é a do comboio a vir-nos trocidar,
acabamos por acreditar na explicação, já que ela é dada por gente independente,
imparcial, apenas imbuída do rigor académico.
Mas,
entretanto, vão chegando notícias que nos devolvem a dúvida:
-
O número de multimilionários aumenta, assim como a fortuna dos que já eram;
-
510 milhões entregues ao BPN, depois de ter sido vendido;
-
2.200 milhões (1,35% do PIB), distribuídos a quem está com a corda na garganta,
à porta da falência, como a Mota-Engil (8 milhões), a Federação Portuguesa de
Futebol (9 milhões), porque há que dar circo ao povinho que, do pão se
encarregam as IPSS, maioritariamente da Igreja Católica, levando 1.300 milhões
destas subvenções públicas. E digam lá se o gaguinho do Ministério da Caridade
não é generoso, bom pai de família e temente a Deus.!
Nesta
altura, começamos a duvidar da sabedoria daqueles que nos são apresentados, só
e apenas, como grandes economistas e professores de mérito: Serão, afinal,
estúpidos? Será que tiraram o curso numa semana ou obtiveram o diploma a um
Domingo? Onde é que eles ensinam, na Universidade de Alcabideche?
Nenhuma
destas hipóteses é plausível, como já está mais que provado. Por isso, quisemos
saber de onde vêm e o que fazem.
Vejamos
4 exemplos dos génios mais cotados nos meios de comunicação social.
Apresentaremos o título com que os jornalistas servis apresentam a criatura e,
depois, os interesses, que os próprios deveriam acrescentar, por honestidade, e
calam.
Com
um pouco de paciência, tempo, internet e o precioso livrinho de Gustavo
Sampaio, Os Privilegiados, recolhem-se informações complementares, a que
daremos o título de “Declaração de Interesses”:
Vítor Bento;
-
Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da
Universidade Técnica de Lisboa; Quadro do Banco de Portugal; Conselheiro de
Estado, escolhido por Cavaco Silva para substituir Dias Loureiro.
Declaração de
interesses:
-
Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Interbancária de Serviços,
SA (SIBS), gestora da rede Multibanco, que cobra as taxas aos comerciantes pela
utilização do seu sistema de pagamentos electrónicos e penaliza os consumidores
de mais baixos recursos, não lhes passando cartão (literalmente).
-
Administrador da VISA, a dos outros cartões de débito e crédito.
-
Vogal do Conselho de Administração da GALP ENERGIA, uma das empresas que
recebem rendas excessivas do Estado, excessivas nas próprias palavras da troika
estrangeira.
Daniel Bessa:
-
Ex-ministro socialista, mas, há muito, afastado da política partidária. Doutorado
em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Finanças, da Universidade
Técnica de Lisboa.
Declaração de
interesses:
-
Presidente do Conselho Fiscal da SONAE
-
Presidente do Conselho Fiscal da GALP ENERGIA
-
Director-Geral da COTEC, associação empresarial para a inovação, com os seguintes projectos, já concluídos e
patrocionados pela C.G.D., pela Agência Portuguesa para o Investimento e pelos
CTT, quando ainda públicos:
- Benchmarking de sistemas de
prevenção e combate a incêndios florestais;
- Apoio à prevenção e combate de
incêndios florestais com base na cartografia do risco e perigosidade dos
incêndios e em modelos de comportamento de fogos florestais;
- Vigilância florestal, detecção e
alerta de incêndios florestais e apoio a sistemas de combate.
(As
famílias dos bombeiros mortos a combater os incêndios devem estar agradecidas a
este trabalho, em triplicado, e aos dinheiros que saíram dos nossos bolsos para
o financiar.)
João
Duque
- Professor catedrático e Presidente do
Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa.
Homem simples, vimos na televisão, de calças
de ganga e ténis, conduzindo uma motorizada, como aquele outro do ministério da
caridadezinha, o que fala aos soluços.
Declaração
de interesses:
- Gestor do Instituto para o Desenvolvimento
e Estudos Económicos, Financeiros e Empresariais, Lda, (IDEFE), empresa de
consultadoria, cujo relatório de actividades não é público.
- Vogal da Comissão de Auditoria e da
Comissão de Avaliação do Governo Societário da NOVABASE.
NOVABASE – empresa especializada em software. “Explora (bem dito!) a
área de bilhética” (enriquecimento de vocabulário...), isto é, tem como cliente
o Estado, que lhe compra o software instalado nas maquinetas onde introduzimos os
bilhetes dos transportes públicos, terrestres e fluviais.
E nada podemos dizer quanto ao protocolo de
colaboração, assinado por João Duque e António Barreto, em representação,
respectivamente, do ISEG e da Fundação Francisco Manuel dos Santos (o do Pingo
Doce), pois a claúsula V do dito contrato impõe a ambas partes o
comprometimento de “manter confidencial e a não divulgar de qualquer forma
quaisquer dados, factos, informações, documentos ou outros elementos de que tenham
conhecimento, no âmbito da colaboração, objecto do presente protocolo” Há toda
a legitimidade em pensar que, ou há um segredo de Estado terrível, ou João
Duque assessora Alexandre dos Santos na fuga aos impostos, aconselhando-o a
mudar a sede para a Holanda.
Cantiga
Esteves:
- Professor do Instituto Superior de Economia
e gestão (ISEG), da Universidade Técnica de Lisboa (pelos vistos, uma canteira
de sábios).
Declaração
de interesses:
- Presidente da Ephi-Ciência Financeira, Lda,
empresa de gestão de riscos financeiros. Tem como cliente o Ministério da Justiça
(certamente para evitar o risco de se fazer justiça e mandar os corruptos para
a prisão), o Instituto de Mercado de Capitais (IMC), além do IDEFE de João
Duque (há que ajudar os amigos), o Banco Mundial, o BCP, o BBVA, a Telecel e a
TSF do Baldaia.
- Com tão grande experiência e saber, o
professor Cantiga dirige, a convite do governo, a comissão para a privatização
dos CTT.
Conclusão
Para quem defende, em coro com o governo, que
é preciso “menos Estado e melhor Estado”, nós percebemos, agora, a ideia: menos
Estado para nós, melhor Estado para eles.
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