O QUE ELES ESCONDEM

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014


OS ECONOMISTAS IMPARCIAIS

 Desde que a chamada “crise” começou, o nosso vocabulário tem-se alargado consideravelmente com “défice estrutural”, “dívida soberana”, “swap”, “parcerias público-privadas”, e, também, “reformas estruturais”, mais conhecidas e sofridas como cortes na Saúde, Educação, salários, pensões, etc, etc.
Para que nós, leigos nas complicadas e difíceis ciências desta área do saber, percebamos os quem, como, quando, onde e porquê de o défice e a dívida aumentarem, os contratos swap e parcerias público-privadas não serem anulados e, ao mesmo tempo, termos que empobrecer, emigrar e ir à sopa dos pobres, há umas sumidades na matéria que nos esclarecem.

Todos os dias, um professor catedrático, um economista prestigiado, vem à televisão, rádio e jornais tornar linear o que parecia uma equação irresolúvel, concluindo que não há alternativa e que as medidas do governo trarão a felicidade a um país próspero.
Os mais cépticos, que desesparávamos a olhar o fundo cada vez mais negro do túnel e a achar que a luz, avistada por alguns, é a do comboio a vir-nos trocidar, acabamos por acreditar na explicação, já que ela é dada por gente independente, imparcial, apenas imbuída do rigor académico.

Mas, entretanto, vão chegando notícias que nos devolvem a dúvida:
- O número de multimilionários aumenta, assim como a fortuna dos que já eram;

- 510 milhões entregues ao BPN, depois de ter sido vendido;
- 2.200 milhões (1,35% do PIB), distribuídos a quem está com a corda na garganta, à porta da falência, como a Mota-Engil (8 milhões), a Federação Portuguesa de Futebol (9 milhões), porque há que dar circo ao povinho que, do pão se encarregam as IPSS, maioritariamente da Igreja Católica, levando 1.300 milhões destas subvenções públicas. E digam lá se o gaguinho do Ministério da Caridade não é generoso, bom pai de família e temente a Deus.!

Nesta altura, começamos a duvidar da sabedoria daqueles que nos são apresentados, só e apenas, como grandes economistas e professores de mérito: Serão, afinal, estúpidos? Será que tiraram o curso numa semana ou obtiveram o diploma a um Domingo? Onde é que eles ensinam, na Universidade de Alcabideche?
Nenhuma destas hipóteses é plausível, como já está mais que provado. Por isso, quisemos saber de onde vêm e o que fazem.

Vejamos 4 exemplos dos génios mais cotados nos meios de comunicação social. Apresentaremos o título com que os jornalistas servis apresentam a criatura e, depois, os interesses, que os próprios deveriam acrescentar, por honestidade, e calam.
Com um pouco de paciência, tempo, internet e o precioso livrinho de Gustavo Sampaio, Os Privilegiados, recolhem-se informações complementares, a que daremos o título de “Declaração de Interesses”:


Vítor Bento;
- Licenciado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade Técnica de Lisboa; Quadro do Banco de Portugal; Conselheiro de Estado, escolhido por Cavaco Silva para substituir Dias Loureiro.

Declaração de interesses:
- Presidente do Conselho de Administração da Sociedade Interbancária de Serviços, SA (SIBS), gestora da rede Multibanco, que cobra as taxas aos comerciantes pela utilização do seu sistema de pagamentos electrónicos e penaliza os consumidores de mais baixos recursos, não lhes passando cartão (literalmente).

- Administrador da VISA, a dos outros cartões de débito e crédito.

- Vogal do Conselho de Administração da GALP ENERGIA, uma das empresas que recebem rendas excessivas do Estado, excessivas nas próprias palavras da troika estrangeira.


Daniel Bessa:
- Ex-ministro socialista, mas, há muito, afastado da política partidária. Doutorado em Economia pelo Instituto Superior de Economia e Finanças, da Universidade Técnica de Lisboa.

Declaração de interesses:
- Presidente do Conselho Fiscal da SONAE

- Presidente do Conselho Fiscal da GALP ENERGIA
- Director-Geral da COTEC, associação empresarial para a inovação, com os seguintes projectos, já concluídos e patrocionados pela C.G.D., pela Agência Portuguesa para o Investimento e pelos CTT, quando ainda públicos:

            - Benchmarking de sistemas de prevenção e combate a incêndios florestais;
            - Apoio à prevenção e combate de incêndios florestais com base na cartografia do risco e perigosidade dos incêndios e em modelos de comportamento de fogos florestais;

            - Vigilância florestal, detecção e alerta de incêndios florestais e apoio a sistemas de combate.

(As famílias dos bombeiros mortos a combater os incêndios devem estar agradecidas a este trabalho, em triplicado, e aos dinheiros que saíram dos nossos bolsos para o financiar.)
 

João Duque
- Professor catedrático e Presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão, da Universidade Técnica de Lisboa.

Homem simples, vimos na televisão, de calças de ganga e ténis, conduzindo uma motorizada, como aquele outro do ministério da caridadezinha, o que fala aos soluços.

Declaração de interesses:
- Gestor do Instituto para o Desenvolvimento e Estudos Económicos, Financeiros e Empresariais, Lda, (IDEFE), empresa de consultadoria, cujo relatório de actividades não é público.

- Vogal da Comissão de Auditoria e da Comissão de Avaliação do Governo Societário da NOVABASE.

      NOVABASE – empresa especializada em software. “Explora (bem dito!) a área de bilhética” (enriquecimento de vocabulário...), isto é, tem como cliente o Estado, que lhe compra o software instalado nas maquinetas onde introduzimos os bilhetes dos transportes públicos, terrestres e fluviais.

E nada podemos dizer quanto ao protocolo de colaboração, assinado por João Duque e António Barreto, em representação, respectivamente, do ISEG e da Fundação Francisco Manuel dos Santos (o do Pingo Doce), pois a claúsula V do dito contrato impõe a ambas partes o comprometimento de “manter confidencial e a não divulgar de qualquer forma quaisquer dados, factos, informações, documentos ou outros elementos de que tenham conhecimento, no âmbito da colaboração, objecto do presente protocolo” Há toda a legitimidade em pensar que, ou há um segredo de Estado terrível, ou João Duque assessora Alexandre dos Santos na fuga aos impostos, aconselhando-o a mudar a sede para a Holanda.
 

Cantiga Esteves:
- Professor do Instituto Superior de Economia e gestão (ISEG), da Universidade Técnica de Lisboa (pelos vistos, uma canteira de sábios).

Declaração de interesses:
- Presidente da Ephi-Ciência Financeira, Lda, empresa de gestão de riscos financeiros. Tem como cliente o Ministério da Justiça (certamente para evitar o risco de se fazer justiça e mandar os corruptos para a prisão), o Instituto de Mercado de Capitais (IMC), além do IDEFE de João Duque (há que ajudar os amigos), o Banco Mundial, o BCP, o BBVA, a Telecel e a TSF do Baldaia.

- Com tão grande experiência e saber, o professor Cantiga dirige, a convite do governo, a comissão para a privatização dos CTT.

 
Conclusão
Para quem defende, em coro com o governo, que é preciso “menos Estado e melhor Estado”, nós percebemos, agora, a ideia: menos Estado para nós, melhor Estado para eles.

 

 

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