Passos
Coelho ganhou as eleições com mentiras e, com mentiras, pretende ganhar as
próximas, sobretudo as de 2015.
Assim,
o ministro da Economia veio dizer que estávamos a assistir a “um milagre
económico” e, na última semana, foram deitados foguetes quando o INE divulgou
uns dados provisórios (os definitivos só em Março estarão prontos) a apontar
para um crescimento de 0,5% do PIB, no último trimestre de 2013, relativamente
ao trimestre anterior.
Numa
outra mentira, Passos Coelho afirmou, no Parlamento, que o governo nunca havia
falado em “milagre económico”. É claro que não lhe interessa falar nesses termos,
não vá os trabalhadores exigirem a parte que lhes caberia nesse aumento da
riqueza, o que, aliás, deveríamos já fazer em relação ao aumento das
exportações.
Mas,
entrámos, definitivamente, na grande aldrabice, cozinhada, aliás, na UE, isto
é, por quem ali manda – Merkel & Draghi, Draghi & Merkel – e apresentada
pelos criados de serviço, nos países sujeitos à intervenção estrangeira e à
especulação sobre as respectivas dívidas soberanas.
Deste
modo, a festa não é feita apenas em Portugal, mas, também, na Grécia e em
Espanha, onde se registou, dizem os lacaios de lá, um crescimento do PIB e que
estão a sair da recessão.
No
texto que se segue, o economista espanhol Eduardo Garzón explica-nos, com
clareza, a falácia deste suposto crescimento.
Em
Portugal, outros dados do INE confirmam que, desde 2008, perdemos 6,9% do PIB (-2,9%
em 2009 e, nos três últimos anos, de 2011 a 2013, sucessivamente -1,3%, -3,2%, -1,4%).
Se,
a estas percentagens de perda de riqueza juntarmos a da dívida – 130% do PIB – e
a última taxa de juro (5,1%), que os mercados especuladores vão cobrar por mais
uma emissão de dívida, vemos bem o buraco onde nos meteram e que nos querem
esconder.
Quando falamos de
crescimento de uma economia, podemos imaginar que é como o crescimento de um
balão de material flexível e cheio de ar. À medida que há mais transacções
económicas, o volume da economia cresce. Da mesma forma, à medida que se
introduz mais ar no balão, o seu volume cresce. Se se falar de um crescimento
de 3% ao ano, o que se está a dizer é que o volume do balão tem que aumentar,
todos os anos, 3 unidades de volume de cada 100 que tem nesse momento. Por
isso, quanto maior for o balão, mais custará fazer com que continue a crescer,
porque haverá que introduzir mais ar, para que volte a ganhar 3% do seu tamanho
crescente. Trata-se, nem mais, nem menos, de um crescimento exponencial.
Precisamente por isso, crescer 3% quando o balão é pequeno é muito fácil, mas
crescer 3% quando o balão é grande é mais difícil.
Desde que começou a crise
económica, em 2008, a economia espanhola perdeu 5,4% do seu tamanho, o que
supõe uma queda muito importante. O balão desinchou bastante e, por isso,
agora, é mais fácil que volte a ganhar algum volume: ao fim e ao cabo, este
percurso já foi feito uma vez (o material flexível do balão, já, antes,
experimentou e suportou esta tensão, pelo que poderá, facilmente, voltar a
fazê-lo). É por isso, exactamente, que,
no último trimestre de 2013, o facto de a economia ter aumentado 0,3%,
relativamente ao trimestre anterior, está dentro do normal e do compreensível.
O preocupante seria que continuasse a cair!
Mas, não podemos esquecer
que o cálculo do PIB enferma de importantes deficiências. O PIB não é senão a
quantidade de transacções que se produzem em todos os âmbitos de uma economia.
Calcular quantas vezes o dinheiro mudou de mãos é impossível, porque ninguém
pode estar em todos os cantos de uma economia a registar o número de
transacções. Portanto, a estimativa do PIB realiza-se através de aproximações
de tipo estatístico, utilizando umas quantas operações económicas importantes,
como, por exemplo, as vendas realizadas por algumas empresas ou o que o Estado
arrecada em impostos, etc. O resultado final não é, portanto, um número exacto,
que resuma perfeitamente o tamanho da economia, mas uma valoração, muito por
estimativas e com amplas margens de erro. Por
consequência, que a economia cresça 0,3% ou que não cresça nada é praticamente
o mesmo. Três décimas percentuais entram perfeitamente nessa margem de erro
com que os estatísticos jogam para construir o indicador, podendo esticá-lo,
consciente ou inconscientemente, para um lado ou para outro. Estas pessoas
devem partir-se a rir quando vêem os governantes ou qualquer outra pessoa a
alegrar-se infinitamente por a economia espanhola ter crescido 0,3%, em vez de
não crescer nada.
Além disso, parece que nos
esquecemos de que não é a primeira vez, durante esta crise, que o PIB cresce um
pouco. Nos anos de 2010 e 2011, houve três trimestres em que a economia cresceu
0,2%, relativamentre ao trimestre anterior; houve outro trimestre em que
cresceu 0,1% e outro em que a economia não cresceu nem caiu nada. Mas, desde
que se conheça como se constrói o indicador do PIB, fica-se a saber que não há
absolutamente nenhuma diferença entre todos esses crescimentos. Crescer 0,1%,
0,2% ou 0,3% é o mesmo que não crescer nada.
Enquanto
a economia não alcançar ritmos superiores a, pelo menos, 1%, não se pode afirmar,
com seriedade, que a economia está a crescer.
Por outro lado, é importante
não perder de vista que o PIB não nos
diz muito sobre o bem-estar da população e muito menos sobre como ele está
repartido. Uma economia pode estar a crescer a ritmos importantes ou ter um
PIB muito elevado e, ao mesmo tempo, ter uma boa parte da sua população
condenada à fome ou à exclusão social. Um bom exemplo disso são os
Estados-Unidos, que é a primeira economia do mundo em tamanho, mas que, ao
mesmo tempo, se situa no posto número 120 em 160 do ranking de equidade na
distribuição da riqueza, medida pelo índice de Gini.
Por tudo isto e ainda mais,
o centro de atenção nunca deve ser este indicador tão imperfeito como é o do
PIB, que pouco nos diz sobre o bem-estar material e social dos cidadãos. O que
de verdade nos deve importar é a taxa de desemprego, a quantidade de salários
que se paga, a quantidade de investimento público na saúde, na educação ou na
cultura, a quantidade de prestações sociais como o subsídio de desemprego,
pensões ou ajuda às pessoas dependentes de terceiros, os níveis de
desigualdade, o preço da electricidade, dos transportes, dos medicamentos, dos
alimentos, da habitação, da gasolina ou da água, etc. E como, precisamente, a
evolução de todos estes elementos não melhora, mas, pelo contrário, tende a
piorar, não podemos fazer outra coisa que não seja indignarmo-nos profundamente
quando nos vendem como uma excelente notícia a de que o PIB da economia cresceu
0,3%.
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