O QUE ELES ESCONDEM

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014


A manipulação da opinião pública sobre o que se passa na Venezuela continua. As mentiras são descaradas e percebe-se a razão: em 15 anos de socialismo democrático, o governo da Venezuela, primeiro com Chávez, depois com Nicolás Maduro, deu a milhões de pessoas o estatuto de cidadão, permitindo-lhes votar (antes, por serem pobres, nem documentos de identificação tinham); consagrou mais de 42% do orçamento de Estado a despesas sociais; tirou 5 milhões de pessoas da pobreza; reduziu a mortalidade infantil; erradicou o analfabetismo; multiplicou por cinco o número de professores primários, nas escolas públicas (de 65 mil para 350 mil). Criou 11 novas universidades. Concedeu pensões de reforma a todos os trabalhadores, inclusive aos não inscritos.

Estes dados foram retirados de um artigo de Ignacio Ramonet, director do Le Monde Diplomatique espanhol e autor do livro “Hugo Chávez. Mi primera vida”. O artigo pode ser lido em www.telesurtv.net sítio digital do canal de televisão Telesur, cujo sinal recebia através da ZON satélite e que foi eliminado do pacote de canais. (1) Também se percebe porquê.

(1) A Zon informou-me que este canal não fazia parte do meu pacote, apesar de, desde início, o ter recebido sempre. No dia 1 de Março, voltei a recuperá-lo.

O artigo que se segue, do professor Salim Lamrani, foi publicado em www.globalresearch.org

 

25 verdades sobre as manifestações na Venezuela

Por Salim Lamrami*

Como em 2002, a oposição radical, incapaz de tomar o poder pela via das urnas, multiplica as acções com o objectivo de romper a ordem constitucional.

1. Nicolás Maduro, Presidente legítimo da Venezuela desde Abril de 2013, fas frente a uma poderosa oposição, apoiada pelos Estados Unidos, aspirando a retomar o poder que perdeu em 1998.

2. Como perdeu as eleições presidenciais de Abril de 2013 por uma diferença de 1,59%, a oposição recusou, primeiro, os resultados eleitorais, confirmados, não obstante, pelas mais importantes instituições internacionais, desde a União Europeia até à Organização de Estados Americanos, passando pelo Centro Carter, e expressou a sua raiva em actos violentos, que custaram a vida a onze militantes chavistas.

3. Apesar disso, a pequena margem que separou o candidato da oposição, Henrique Capriles, do vencedor Nicolás Maduro, galvanizou a direita, motivada pela perspectiva da reconquista do poder. Fez, então, das eleições autárquicas de Dezembro de 2013 um objectivo estratégico.

4. Contra todos os prognósticos, as eleições autárquicas transformaram-se em plebiscito a favor do poder chavista, que ganhou 76% dos municípios (256) contra 23% (76) para a coligação MUD, que agrupou toda a oposição.

5. Desmoralizada por esse sério revés, vendo a perspectiva de uma reconquista do poder, por via democrática, afastar-se outra vez – as próximas eleições serão as legislativas, em Dezembro de 2015 -, a oposição decidiu reproduzir o esquema de Abril de 2002, que desembocou num golpe de Estado mediatico-militar contra o Presidente Hugo Chávez.

6. A partir de Janeiro de 2014, o sector radical da oposição decidiu actuar. Leopoldo López, líder do partido Vontade Popular, que havia participado no golpe de Estado de Abril de 2002, lançou um apelo à insurreição, a partir de 2 de Janeiro de 2014: “Queremos lançar um apelo aos venezuelanos (...) que nos levantemos. Convocamos o povo venezuelano a dizer “já basta” (...) Com uma meta a discutir:’a saída’. Qual é a saída para este desastre?”.

7. No dia 2 de Fevereiro de 2014, durante uma manifestação, Leopoldo López designou o poder como responsável de todos os males:”As carências que padecemos hoje têm um culpado. Esse culpado é o poder nacional.”.

8. No dia 2 de Fevereiro de 2014, Antonio Ledesma, figura da oposição e presidente da Câmara da capital Caracas, também lançou um apelo à mudança:”Este regime cumpre hoje quinze anos contínuos, promovendo a confrontação. Hoje, começa a unidade na rua de toda a Venezuela”.

9 Maria Corina Machado, deputada da oposição, lançou um apelo para pôr fim à “tirania”: “O povo da Venezuela tem uma resposta:’Rebeldia, rebeldia’. Há alguns que dizem que devemos esperar por umas eleições dentro de uns quantos anos. Podem esperar os que não conseguem alimentos para os filhos? Podem esperar os funcionários públicos, os camponeses, os comerciantes, a quem tiraram o direito ao trabalho e à propriedade? A Venezuela não pode esperar mais”.

10. No dia 6 de Fevereiro de 2014, depois de uma manifestação da oposição, um grupo de uma centena de encapuçados atacou a residência do Governador do Estado de Táchira, ferindo uma dezena de polícias.

11. Na mesma semana, várias manifestações da oposição sucederam-se, em diferentes Estados, e degeneraram todas em violência.

12. No dia 12 de Fevereiro de 2014, outra manifestação, orquestrada pela oposição, em frente ao Ministério Público, composta por estudantes das universidades privadas, organizados em grupos de choque, foi de uma violência inaudita, com três mortos, uma centena de feridos e inumeráveis danos colaterais.

13. Como durante o golpe de Estado de Abril de 2002, as três pessoas falecidas foram todas executadas com uma bala na cabeça.

14. Entre elas encontrava-se um militante chavista, Juan Montoya e um opositor chamado Basil Da Acosta. Segundo a investigação balística, ambos foram executados com a mesma arma.

15. Nos dias seguintes, os manifestantes, oficialmente mobilizados “contra a vida cara e a insegurança”, instalaram-se na Praça Altamira, situada num bairro rico de Caracas.

16. Desde há vários meses que a Venezuela sofre uma guerra económica, de orquestrada pela oposição, que controla ainda amplos sectores, com a organização artificial de penúrias, de açambarcamento de produtos de primeira necessidade e de multiplicação de actos especulativos.

17. Assim, no dia 5 de Fevereiro de 2014, as autoridades apreenderam, no Estado de Táchira, cerca de mil toneladas de produtos alimentares de primeira necessidade (arroz, açúcar, azeite, café, etc.), escondidos em armazens. Desde Janeiro de 2013, as autoridades apreenderam mais de 50.000 toneladas de alimentos.

18. O governo bolivariano decidiu actuar e castigar os açambarcadores e especuladores. Em Novembro de 2013, a cadeia Daka de produtos electrodomésticos foi embargada e as autoridades decidiram regular os preços. Com efeito, a empresa facturava os seus produtos com um lucro de mais de 1.000%, o que os tornava inacessíveis à maioria da população.

19. Agora, a margem de lucro para as empresas não poderá superar os 30%.

20.O Presidente Nicolás Maduro denunciou uma tentativa de golpe de Estado e chamou os cidadãos a fazer frente ao “fascismo”. “Nada nos afastará do caminho da Pátria e da via da democracia”, afirmou.

21. No dia 17 de Fevereiro de 2014, três diplomatas dos Estados Unidos foram expulsos do país pela sua implicação nos sangrentos acontecimentos. Tinham-se reunido com os estudantes das universidades privadas, para coordenar as manifestações, segundo as autoridades venezuelanas.

22. No dia 18 de Fevereiro de 2014, Leopoldo López foi preso pela sua responsabilidade política nas manifestações violentas e foi entregue à justiça.

23. A administração Obama condenou o governo de Caracas pela violência, sem apontar um só instante a responsabilidade da oposição, que tenta realizar um golpe de Estado. Pelo contrário, o Departamento de Estado exigiu a libertação imediata de Leopoldo López, o principal instigador dos acontecimentos dramáticos.

24. Os meios de comunicação ocidentais ocultaram os actos violentos dos grupúsculos armados (o metro e edifícios públicos saqueados, as lojas Mercal – onde o povo se abastece de alimentos! – queimadas), assim como o facto de a televisão pública, Venezolana de Televisión (VTV), ter sido atacada com armas de fogo.

25. Os meios de comunicação ocidentais, longe de apresentar os acontecimentos dramáticos, ocorridos na Venezuela, com toda a imparcialidade, tomaram partido a favor da oposição golpista e contra o governo democrático e legítimo de Nicolás Maduro. Não vacilam em manipular a opinião pública e apresentam a situação como um levantamento popular maciço contra o poder. Na realidade, Maduro dispõe do apoio da maioria dos venezuelanos, como o ilustram as manifestações gigantescas a favor da Revolução Bolivariana.

 

* Doutor em Estudos Ibéricos e Latino-americanos da Universidade Sorbone-Paris IV. É professor titular da Universidade de La Réunion e jornalista, especialista das relações entre Cuba e os Estados Unidos. O seu ultimo livro intitula-se Cuba. Les medias face au défi de l’impartialité, Paris, Ed. Estrella, 2013, com um prólogo de Eduardo Galeano.

 

 
 

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