O QUE ELES ESCONDEM

sábado, 22 de março de 2014

 
MEIOS DE COMUNICAÇÃO AO SERVIÇO DO FASCISMO
 
 
O jornal Expresso publicou esta fotografia, como sendo de um "sniper" dos que andaram a matar pessoas em Kiev:
 
 
 
 
 

A verdade, porém, é que este homem é Rostilav Stepanovich Vasiko, 1º Secretário do Partido Comunista da Ucrânia, em Lviv (Lvov, em russo).

No site deste Partido, Rostilav publicou o seguinte apelo:
Camaradas, eu sou Rostilav Stepanovich Vasiko, Primeiro Secretário do comité local do Partido Comunista da Ucrânia em Lvov. Os Banderistas [partidários do colaborador dos nazis Stepan Bandera] bateram-me muito em Kiev. Eles perseguiram a minha mãe, ameaçaram as minhas crianças de morte. Eles ameaçaram matar-me e matar a minha esposa. Ajudem-me a conseguir asilo político  noutro país. No dia 22 de fevereiro, das 11h às 23h, os facínoras da Euromaidan torturaram-me no Parque Mariinsk. Eles enfiaram agulhas sob as minhas unhas e bateram-me  com tacos e deram-me  murros. Perfuraram-me o pulmão direito, partiram-me  três costelas, o nariz e o crânio, onde tenho uma concussão de segundo grau. Tenho hematomas por todo o  corpo. Os Banderistas levaram-me  tudo,  documentos  e dinheiro”.

Estas outras fotografias, postas na net, mostram a bestialidade dos nazis quando apanharam Rostilav Stepanovich Vasiko.
 
 
 
O artigo de Vicenç Navarro elucida sobre o que se está a passar na Ucrânia e explica a razão do apoio da UE e EUA aos nazis ucranianos.

A grande maioria dos meios de comunicação, o Expresso incluído, faz o seu trabalho de serviçal do patrão, isto é, dos interesses do grande capital.

E, como Vicenç Navarro diz, é necessário instaurar o fascismo para que esses
interesses possam dispor à vontade da riqueza de um país.

Em Portugal, ainda não se chegou a esta brutalidade, mas quando os protestos populares começarem a pôr verdadeiramente em causa a ditadura em que já vivemos, o fascismo violento mostrará, igualmente, as suas garras.

Para já, está a lançar mão da desinformação, da mentira, da chantagem e do medo.

Serve-se dos meios de comunicação mas, também, de uns lacaizitos menores, pretendendo calar quem é incómodo, quer através do telefone, amedrontando quem julgam poder amedrontar, ou destruindo, com vírus, os computadores de quem diz a verdade.

Dois economistas, os professores Juan Torres López e Vicenç Navarro, de quem tenho todo o prazer em traduzir e publicar os artigos que escrevem, já viram, o primeiro, o Facebook bloqueado, não podendo introduzir novos conteúdos, e o outro, um ataque cibernético, altamente especializado, danificar e silenciar o seu blogue.

Contra este fascismo larvar, nos países do sul da Europa (onde a ditadura austeritária é mais feroz) e, abertamente, na Ucrânia, milhares de cidadãos estão a levantar-se e a reagir.



O QUE NÃO SE DIZ SOBRE A UCRÂNIA

Por Vicenç Navarro*

A grande maioria dos meios de comunicação está a apresentar a situação presente, na Ucrânia, como um levantamento popular contra um governo corrupto e sumamente impopular. Daí que esteja a gerar uma simpatia generalizada, favorecida por uns meios de comunicação que, ainda apegados à ideologia da Guerra Fria, vêem a Rússia como inimigo. E, dado a Rússia ter apoiado esse governo, enquanto os que se lhe opunham defendiam, sobretudo, a sua ligação à União Europeia, está explicada a leitura tão favorável da revolta popular contra o governo, que acabou por depô-lo, embora o dito governo tenha sido eleito democraticamente.
Não se duvida que a revolta contra o governo deposto foi uma revolta popular. Mas, a realidade é mais complexa do que os média anunciam. Efectivamente, não se tem dito (com excepção de Rafael Poch, correspondente de La Vanguardia, na Alemanha) que, hoje, a Ucrânia é o único país da Europa onde existem membros de um partido nazi com posições de grande poder. O partido nazi chama-se, paradoxalmente, Liberdade (Svoboda), e os seus membros, no governo, são o Ministro da Defesa (Igor Tenyukh), o vice-Primeiro-Ministro para os Assuntos Económicos (Aleksendr Sych, o ideólogo do partido que pressiona, entre outras medidas, para que se proíba o aborto), o Ministro da Agricultura, Igor Shvaika (um dos maiores latifundiários da Ucrânia), o Ministro da Ecologia (Andriy Moknyk, o contacto dos grupos nazis europ eus), o director do Conselho Nacional de Segurança, Andry Parubiy (e director da milícia militar do partido), o Procurador Geral, Oleh Makhnitsky, e o Ministro da Educação Serhiy Kvit, entre muitos outros. O poder deste partido condiciona, claramente, o novo governo da Ucrânia.

O dito partido foi fundado em 1991, apresentando-se como sucessor da Organização de Nacionalistas Ucranianos (ONU), fundada por um personagem, Stepan Bandera, peça-chave na história recente da Ucrânia. O partido Svoboda apresenta-o como o seu máximo inspirador. Foi definido como herói nacional, em 2010, pelo Presidente Victor Yushchenko, mais tarde substituído por Yanukovich, democraticamente eleito e Presidente do governo deposto, como resultado da revolta popular. Este último governo retirou as honras que haviam concedido a Bandera e é mais que provável que o novo governo lhas restitua.
Bandera, cuja homenagem mereceu o protesto do Tribunal Europeu de Justiça (European Court of Justice), foi o maior aliado, na Ucrânia, do regime nazi de Hitler, tendo dirigido dois batalhões que se integraram nas SS nazis alemãs, na luta contra a União Soviética, durante a 2ª Guerra Mundial (segundo o Centro Simon Wiesenthal, esses batalhões procederam à prisão de 4.000 judeus ucranianos, enviando-os para campos de concentração nazis, em Lviv, em Julho de 1941). Nos documentos da organização fundada e dirigida por Bandera, (a tal ONU) fala-se, explicitamente, da necessidade de limpar a raça, eliminando os judeus. O Professor de História da Tufts University Gary Leupp, no seu pormenorizado artigo Ukraine: The Sovereignty Argument, and the Real Problem of Fascism, CounterPunch, 10-3-2014, do qual extraio todos os dados que apresento nesta primeira parte do meu artigo, cita textos inteiros, mostrando o carácter nazi desta organização. Quando a Alemanha nazi invadiu a Ucrânia, Bandera declarou a sua independência, com um governo que  trabalhou “muito próximo e irmanado com o nacional-socialismo da Grande Alemanha, sob a liderança de Adolf Hitler, que está a formar uma nova Europa”.

O partido dominante, neste novo governo da Ucrânia, Svoboda, considera-se um orgulhosos herdeiro da tal ONU e pretende purificar a sociedade ucraniana, perseguindo violentamente os homossexuais, proibindo o aborto, estabelecendo uma ordem hierárquica e disciplinada, enfatizando a masculinidade e a parafrenália militar, apelando à expulsão da mafia judia moscovita e eliminando o comunismo, começando pela proibição do Partdo Comunista e a perseguição dos seus membros ou intelectuais afins. Pensa, também, eliminar, mais tarde, todos os partidos. Na realidade, o programa não pode ser mais claro. Em 2010, a web deste partido dizia “Para criar uma Ucrânia livre... teremos que acabar com o Parlamento e o parlamentarismo, proibir todos os partidos políticos, estatizar todos os meios de comunicação, purgar toda a Função Pública e executar (termo que utilizam) todos os membros dos partidos políticos anti-ucranianos”. O Congresso Mundial Judeu (World Jewish Congress) declarou este partido como partido neonazi, em Maio do ano passado.
Como é que um partido nazi está a governar, hoje, a Ucrânia?

As mobilizações populares que puseram fim ao governo eram, na sua maioria, mobilizações espontâneas, com fraca estrutura organizativa. Daí que um grupo, inclusive armado, com apoio político internacional, tenha podido, facilmente, tomar conta dessas mobilizações, com um papel importante nas etapas finais do movimento popular. E, por paradoxal que pareça, tanto os EUA como a UE tiveram um papel-chave nesta promoção. Na verdade, mais os EUA do que a UE. Foi, precisamente, Victoria Nuland, responsável pelo Departamento de Estado para os Assuntos Europeus e Euro-asiáticos (uma funcionária da ultra-direita dura, nomeada pelo vice-Presidente Cheney, durante a Administração Bush, e, surpreendentemente, mantida neste cargo pela Administração Obama) quem apoiou mais forte e abertamente o partido Svoboda, pois era o mais anti-russo dos grupos que existiam nas manifestações. Foi esta personagem que utilizou a famosa expressão “Que se foda a UE!” (“Fuck the EU”), insistindo em que o governo tinha que ter em conta o Svoboda, por muito má imagem que isso criasse. Na realidade, o dito partido, nas últimas eleições, teve apenas 10% dos votos. Porém, a sua enorme influência não vem do apoio popular, mas das maquinações levadas a cabo, com o governo dos Estados Unidos e o alemão a terem um papel central. Ambos desejam expandir a área de influência da NATO até ao Leste da Europa e vêem como favorável a isso a situação da Ucrãnia. O membro do Svoboda que é Ministro da Defesa é defensor da NATO e estudou no Pentágono, EUA.
Qual o futuro da Ucrânia?

Hoje, as elites governamentais dos dois lados do Atlântico Norte encontram-se numa situação conflitiva. De um lado, há o complexo militar industrial dos EUA, muito na defensiva (devido aos cortes notáveis na defesa militar do governo federal, resultado do descontentamento da população em relação às campanhas bélicas, que caracterizam a política exterior dos EUA) e pretende reavivar, por todos os meios, a Guerra Fria, para justificar a recuperação do seu papel central no sistema político-económico dos EUA.
Mas, esta estratégia choca, claramente, com os interesses financeiros e económicos da UE e, também, dos EUA. A Rússia é o terceiro sócio comercial da UE, depois dos EUA e da China, com uma troca comercial de mais de 500.000 milhões de dólares, em 2012 (Bob Dreyfuss, Capitalism Will Prevent a Cold War Over Ukraine, The Nation, 10-3-1014). Cerca de 75% de todos os investimentos estrangeiros, na Rússia, procedeu da UE, sendo a Rússia a maior fornecedora de gaz da UE. E o capital dos grandes oligarcas russos está em bancos europeus, a maior parte na City de Londres. Hoje, o grande capital financeiro e industrial não deseja uma Guerra Fria. Com efeito, grande parte do armamento da Rússia é construído na Suécia e em França (a última compra foi de helicópteros, 1.700 milhões de dólares). Daí que, por muito que se fale de penalizar a Rússia, é pouco provável que ocorra uma acçaõ militar. Não nos encontramos na primeira página da 3ª Guerra Mundial, mas isso não implica que não estejamos a ver o ressurgimento do nazismo, apoiado, paradoxalmente, por elites governantes, dos dois lados do Atlântico Norte, que representa a mão dura necessária para pôr em prática as políticas neoliberais, que o governo ucraniano realizará, a fim de facilitar a sua integração na UE.

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Original publicado no www.publico.es , em 18-3-2014

* Catedrático de Ciências Políticas e Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona. É também professor de Políticas Públicas na The Johns Hopkins University (Baltimore, EUA), onde foi docente durante 35 anos. Dirige o programa Políticas Públicas e Sociais, patrocinado conjuntamente pela Universidade Pompeu Fabra e The Johns Hopkins University. Dirige, igualmente, o Observatório Social de Espanha.

 





 
 
 
 
 
 
 
 
 
 


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