MEIOS DE COMUNICAÇÃO AO SERVIÇO DO FASCISMO
O jornal Expresso publicou esta fotografia, como sendo de um "sniper" dos que andaram a matar pessoas em Kiev:
A verdade, porém, é que este homem é Rostilav Stepanovich Vasiko, 1º Secretário do Partido Comunista da Ucrânia, em Lviv (Lvov, em russo).
No site deste Partido, Rostilav publicou o seguinte apelo:
“Camaradas, eu sou Rostilav Stepanovich Vasiko, Primeiro Secretário do comité local do Partido Comunista da Ucrânia em Lvov. Os Banderistas [partidários do colaborador dos nazis Stepan Bandera] bateram-me muito em Kiev. Eles perseguiram a minha mãe, ameaçaram as minhas crianças de morte. Eles ameaçaram matar-me e matar a minha esposa. Ajudem-me a conseguir asilo político noutro país. No dia 22 de fevereiro, das 11h às 23h, os facínoras da Euromaidan torturaram-me no Parque Mariinsk. Eles enfiaram agulhas sob as minhas unhas e bateram-me com tacos e deram-me murros. Perfuraram-me o pulmão direito, partiram-me três costelas, o nariz e o crânio, onde tenho uma concussão de segundo grau. Tenho hematomas por todo o corpo. Os Banderistas levaram-me tudo, documentos e dinheiro”.
Estas outras fotografias, postas na net, mostram a bestialidade dos nazis quando apanharam Rostilav Stepanovich Vasiko.
O artigo de Vicenç Navarro elucida sobre o que se está a passar na Ucrânia e explica a razão do apoio da UE e EUA aos nazis ucranianos.
A grande maioria dos meios de comunicação, o Expresso incluído, faz o seu trabalho de serviçal do patrão, isto é, dos interesses do grande capital.
E, como Vicenç Navarro diz, é necessário instaurar o fascismo para que esses
interesses possam dispor à vontade da riqueza de um país.
Em Portugal, ainda não se chegou a esta brutalidade, mas quando os protestos populares começarem a pôr verdadeiramente em causa a ditadura em que já vivemos, o fascismo violento mostrará, igualmente, as suas garras.
Para já, está a lançar mão da desinformação, da mentira, da chantagem e do medo.
Serve-se dos meios de comunicação mas, também, de uns lacaizitos menores, pretendendo calar quem é incómodo, quer através do telefone, amedrontando quem julgam poder amedrontar, ou destruindo, com vírus, os computadores de quem diz a verdade.
Dois economistas, os professores Juan Torres López e Vicenç Navarro, de quem tenho todo o prazer em traduzir e publicar os artigos que escrevem, já viram, o primeiro, o Facebook bloqueado, não podendo introduzir novos conteúdos, e o outro, um ataque cibernético, altamente especializado, danificar e silenciar o seu blogue.
Contra este fascismo larvar, nos países do sul da Europa (onde a ditadura austeritária é mais feroz) e, abertamente, na Ucrânia, milhares de cidadãos estão a levantar-se e a reagir.
O QUE
NÃO SE DIZ SOBRE A UCRÂNIA
Por
Vicenç Navarro*
A grande maioria dos meios
de comunicação está a apresentar a situação presente, na Ucrânia, como um
levantamento popular contra um governo corrupto e sumamente impopular. Daí que
esteja a gerar uma simpatia generalizada, favorecida por uns meios de
comunicação que, ainda apegados à ideologia da Guerra Fria, vêem a Rússia como
inimigo. E, dado a Rússia ter apoiado esse governo, enquanto os que se lhe
opunham defendiam, sobretudo, a sua ligação à União Europeia, está explicada a
leitura tão favorável da revolta popular contra o governo, que acabou por
depô-lo, embora o dito governo tenha sido eleito democraticamente.
Não se duvida que a revolta
contra o governo deposto foi uma revolta popular. Mas, a realidade é mais
complexa do que os média anunciam. Efectivamente, não se tem dito (com excepção
de Rafael Poch, correspondente de La
Vanguardia, na Alemanha) que, hoje, a Ucrânia é o único país da Europa onde
existem membros de um partido nazi com posições de grande poder. O partido nazi
chama-se, paradoxalmente, Liberdade (Svoboda), e os seus membros, no governo,
são o Ministro da Defesa (Igor Tenyukh), o vice-Primeiro-Ministro para os
Assuntos Económicos (Aleksendr Sych, o ideólogo do partido que pressiona, entre
outras medidas, para que se proíba o aborto), o Ministro da Agricultura, Igor
Shvaika (um dos maiores latifundiários da Ucrânia), o Ministro da Ecologia
(Andriy Moknyk, o contacto dos grupos nazis europ eus), o director do Conselho
Nacional de Segurança, Andry Parubiy (e director da milícia militar do
partido), o Procurador Geral, Oleh Makhnitsky, e o Ministro da Educação Serhiy
Kvit, entre muitos outros. O poder deste partido condiciona, claramente, o novo
governo da Ucrânia.
O dito partido foi fundado
em 1991, apresentando-se como sucessor da Organização de Nacionalistas
Ucranianos (ONU), fundada por um personagem, Stepan Bandera, peça-chave na
história recente da Ucrânia. O partido Svoboda apresenta-o como o seu máximo
inspirador. Foi definido como herói nacional, em 2010, pelo Presidente Victor
Yushchenko, mais tarde substituído por Yanukovich, democraticamente eleito e
Presidente do governo deposto, como resultado da revolta popular. Este último
governo retirou as honras que haviam concedido a Bandera e é mais que provável
que o novo governo lhas restitua.
Bandera, cuja homenagem
mereceu o protesto do Tribunal Europeu de Justiça (European Court of Justice),
foi o maior aliado, na Ucrânia, do regime nazi de Hitler, tendo dirigido dois
batalhões que se integraram nas SS nazis alemãs, na luta contra a União
Soviética, durante a 2ª Guerra Mundial (segundo o Centro Simon Wiesenthal,
esses batalhões procederam à prisão de 4.000 judeus ucranianos, enviando-os
para campos de concentração nazis, em Lviv, em Julho de 1941). Nos documentos
da organização fundada e dirigida por Bandera, (a tal ONU) fala-se,
explicitamente, da necessidade de limpar a raça, eliminando os judeus. O
Professor de História da Tufts University Gary Leupp, no seu pormenorizado
artigo Ukraine: The Sovereignty
Argument, and the Real Problem of Fascism, CounterPunch, 10-3-2014, do qual extraio todos os dados que
apresento nesta primeira parte do meu artigo, cita textos inteiros, mostrando o
carácter nazi desta organização. Quando a Alemanha nazi invadiu a Ucrânia,
Bandera declarou a sua independência, com um governo que trabalhou “muito próximo e irmanado com o
nacional-socialismo da Grande Alemanha, sob a liderança de Adolf Hitler, que
está a formar uma nova Europa”.
O partido dominante, neste
novo governo da Ucrânia, Svoboda, considera-se um orgulhosos herdeiro da tal
ONU e pretende purificar a sociedade ucraniana, perseguindo violentamente os
homossexuais, proibindo o aborto, estabelecendo uma ordem hierárquica e
disciplinada, enfatizando a masculinidade e a parafrenália militar, apelando à
expulsão da mafia judia moscovita e eliminando o comunismo, começando pela
proibição do Partdo Comunista e a perseguição dos seus membros ou intelectuais
afins. Pensa, também, eliminar, mais tarde, todos os partidos. Na realidade, o
programa não pode ser mais claro. Em 2010, a web deste partido dizia “Para
criar uma Ucrânia livre... teremos que acabar com o Parlamento e o
parlamentarismo, proibir todos os partidos políticos, estatizar todos os meios
de comunicação, purgar toda a Função Pública e executar (termo que utilizam)
todos os membros dos partidos políticos anti-ucranianos”. O Congresso Mundial
Judeu (World Jewish Congress) declarou este partido como partido neonazi, em
Maio do ano passado.
Como
é que um partido nazi está a governar, hoje, a Ucrânia?
As mobilizações populares
que puseram fim ao governo eram, na sua maioria, mobilizações espontâneas, com
fraca estrutura organizativa. Daí que um grupo, inclusive armado, com apoio
político internacional, tenha podido, facilmente, tomar conta dessas
mobilizações, com um papel importante nas etapas finais do movimento popular.
E, por paradoxal que pareça, tanto os EUA como a UE tiveram um papel-chave
nesta promoção. Na verdade, mais os EUA do que a UE. Foi, precisamente,
Victoria Nuland, responsável pelo Departamento de Estado para os Assuntos
Europeus e Euro-asiáticos (uma funcionária da ultra-direita dura, nomeada pelo
vice-Presidente Cheney, durante a Administração Bush, e, surpreendentemente,
mantida neste cargo pela Administração Obama) quem apoiou mais forte e
abertamente o partido Svoboda, pois era o mais anti-russo dos grupos que
existiam nas manifestações. Foi esta personagem que utilizou a famosa expressão
“Que se foda a UE!” (“Fuck the EU”), insistindo em que o governo tinha que ter
em conta o Svoboda, por muito má imagem que isso criasse. Na realidade, o dito
partido, nas últimas eleições, teve apenas 10% dos votos. Porém, a sua enorme
influência não vem do apoio popular, mas das maquinações levadas a cabo, com o
governo dos Estados Unidos e o alemão a terem um papel central. Ambos desejam
expandir a área de influência da NATO até ao Leste da Europa e vêem como
favorável a isso a situação da Ucrãnia. O membro do Svoboda que é Ministro da
Defesa é defensor da NATO e estudou no Pentágono, EUA.
Qual
o futuro da Ucrânia?
Hoje, as elites
governamentais dos dois lados do Atlântico Norte encontram-se numa situação
conflitiva. De um lado, há o complexo militar industrial dos EUA, muito na
defensiva (devido aos cortes notáveis na defesa militar do governo federal,
resultado do descontentamento da população em relação às campanhas bélicas, que
caracterizam a política exterior dos EUA) e pretende reavivar, por todos os
meios, a Guerra Fria, para justificar a recuperação do seu papel central no
sistema político-económico dos EUA.
Mas, esta estratégia choca,
claramente, com os interesses financeiros e económicos da UE e, também, dos
EUA. A Rússia é o terceiro sócio comercial da UE, depois dos EUA e da China,
com uma troca comercial de mais de 500.000 milhões de dólares, em 2012 (Bob
Dreyfuss, Capitalism Will Prevent a
Cold War Over Ukraine, The Nation, 10-3-1014). Cerca de 75% de todos os
investimentos estrangeiros, na Rússia, procedeu da UE, sendo a Rússia a maior
fornecedora de gaz da UE. E o capital dos grandes oligarcas russos está em
bancos europeus, a maior parte na City de Londres. Hoje, o grande capital
financeiro e industrial não deseja uma Guerra Fria. Com efeito, grande parte do
armamento da Rússia é construído na Suécia e em França (a última compra foi de
helicópteros, 1.700 milhões de dólares). Daí que, por muito que se fale de
penalizar a Rússia, é pouco provável que ocorra uma acçaõ militar. Não nos
encontramos na primeira página da 3ª Guerra Mundial, mas isso não implica que
não estejamos a ver o ressurgimento do nazismo, apoiado, paradoxalmente, por
elites governantes, dos dois lados do Atlântico Norte, que representa a mão
dura necessária para pôr em prática as políticas neoliberais, que o governo
ucraniano realizará, a fim de facilitar a sua integração na UE.
* Catedrático de Ciências Políticas e
Sociais, na Universidade Pompeu Fabra, de Barcelona. Foi Catedrático de
Economia Aplicada, na Universidade de Barcelona. É também professor de
Políticas Públicas na The Johns Hopkins University (Baltimore, EUA), onde foi
docente durante 35 anos. Dirige o programa Políticas Públicas e Sociais,
patrocinado conjuntamente pela Universidade Pompeu Fabra e The Johns Hopkins
University. Dirige, igualmente, o Observatório Social de Espanha.
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