O caso PT ou por que se destrói a riqueza de um país
"Durante décadas a
maior empresa portuguesa, e a primeira de dimensão internacional, a PT, era,
também, a companhia que mais investia em tecnologia e investigação no nosso
país", lembra Mariana Mortágua numa intervenção, no Parlamento.
Nunca é de
mais fazer um exercício de memória para saber, exactamente, quem são os
principais culpados da situação a que chegou a Portugal Telecom, ao darem
liberdade aos administradores, através da privatização, para todo o tipo de
negociatas e especulação financeira, com o nosso dinheiro.
Assim,
temos, em 1 de Junho de 1995, a 1ª fase da privatização, ou primeira
machadada nesta empresa pública, com Cavaco a alienar 27,26% do seu
capital. Fê-lo a 4 meses das eleições, com os socialistas já perfilados na
sucessão do poder. Terá sido receio de que o seu substituto, o socialista
Guterres, honrando o nome do seu partido, recusasse privatizar uma
empresa estratégica para a soberania nacional, com bons lucros, que
revertiam para o Estado, isto é, socializados e não arrecadados
apenas por alguns? Se sim, enganou-se, visto ter sido o dito socialista
que mais privatizações fez, PT incluída.
O governo de
Guterres (1995-2002), de quem António Costa foi duas vezes Ministro (é também
bom não esquecer), foi quem procedeu à privatização quase total da PT: 21,74%
do capital, em 1996, quase 26%, em 1997, 13,5%, em 1999 e o resto em 2000,
ficando, por fim, o Estado com apenas 500 acções em golden share, isto é, com
direitos preferenciais sobre as decisões da empresa. António Costa chamará a
isto uma privatização inteligente, como, agora, propõe aplicar uma
"austeridade inteligente". Isto é, um socialismo que, depois de ter
sido metido na gaveta por Mário Soares, abre portas e janelas (as tais, das
oportunidades) aos buldózeres da destruição completa dos bens públicos.
Os
actuais vendedores do país não tiveram que se esforçar muito para pôr fim
a essa golden share, tendo sido uma das primeiras acções
destruidoras, assim que tomaram posse (Conselho de Ministros de Julho de 2011).
Se se pedir
responsabilidades a uns e a outros, responderão, vivaços, ou com ar sorna,
que se limitaram a cumprir as exigências de Bruxelas, entre as quais, como
Burroso nos ensinou lá do alto, da Comissão Europeia - a "concorrência
livre e não falseada". Não dirão que foram eles quem concordou
com os tratados que prevêem o desmantelamento e privatização das empresas
públicas lucrativas, assinando e apoiando todos os tratados europeus que
contemplam esta traição ao país. O Tratado de Lisboa, assinado com pompa e
circunstância por Guterres (de quem António Costa foi duas vezes Ministro, é
útil não esquecer) foi o penúltimo capítulo e capitulação de Portugal como país
independente. O último está no Tratado Orçamental, aprovado à sorrelfa, no
Parlamento português, pela maioria de direita, isto é, PS+PSD+CDS.
Resta dizer que,
dos países sob ocupação da Troika (Comissão Europeia, presidida pelo patriota
Burroso, comprador de submarinos à Alemanha, Banco Central Europeu, presidido
por um alto funcionário do banco privado Goldman Sachs, protagonista da trafulhice
nas contas públicas da Grécia, e FMI, presidido por uma ex-ministra francesa a
contas com a justiça por corrupção e desvio de fundos públicos), Portugal
evidencia-se como o melhor sabujo deste bando de delinquentes. A Irlanda e a
Grécia, depois de a Troika ter obrigado a privatizar algumas empresas, fizeram
questão de guardar, nessas empresas, uma golden share. Ex.: A Public Power
Company grega.
Mas, para
vermos com mais clareza como a “construção europeia” tem sido feita para
destruir as economias dos países periféricos, como Portugal, e pô-los sob o
domínio da Alemanha e seus aliados, falta saber que esses países não
privatizaram, total ou parcialmente, segundo os casos, os CTT, por exemplo, e
detêm uma participação considerável em empresas estratégicas para as
respectivas economias. Ex.: Volkswagen, Renault.
É assim que,
agora, depois de totalmente privatizada e desvalorizada, os restos da Portugal
Telecom irão parar a mãos francesas (segundo tudo indica, pois o especialista
em venda do país a retalho, Paulo Portas, já recebeu os interessados, no seu gabinete de
ministro), isto é, quem der mais e melhores luvas ao vendedor
e intermediários.
Vêm, depois,
dizer-nos que não há dinheiro. Pois não há, nem pode haver, se o que dá lucro nos
é roubado, obrigando o Estado a endividar-se num crescendo, com emissão de
títulos de dívida para pagar apenas juros. Mas é este o objectivo de quem manda
na União Europeia e dos seus lacaios nacionais: acorrentarem-nos a uma dívida
para todo o sempre.
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