O QUE ELES ESCONDEM

domingo, 12 de outubro de 2014


 
O caso PT ou por que se destrói a riqueza de um país
 
"Durante décadas a maior empresa portuguesa, e a primeira de dimensão internacional, a PT, era, também, a companhia que mais investia em tecnologia e investigação no nosso país", lembra Mariana Mortágua numa intervenção, no Parlamento.

Nunca é de mais fazer um exercício de memória para saber, exactamente, quem são os principais culpados da situação a que chegou a Portugal Telecom, ao darem liberdade aos administradores, através da privatização, para todo o tipo de negociatas e especulação financeira, com o nosso dinheiro.

Assim, temos, em 1 de Junho de 1995, a 1ª fase da privatização, ou primeira machadada nesta empresa pública, com Cavaco a alienar 27,26% do seu capital. Fê-lo a 4 meses das eleições, com os socialistas já perfilados na sucessão do poder. Terá sido receio de que o seu substituto, o socialista Guterres, honrando o nome do seu partido, recusasse privatizar uma empresa estratégica para a soberania nacional, com bons lucros, que revertiam para o Estado, isto é, socializados e não arrecadados apenas por alguns? Se sim, enganou-se, visto ter sido o dito socialista que mais privatizações fez, PT incluída.

O governo de Guterres (1995-2002), de quem António Costa foi duas vezes Ministro (é também bom não esquecer), foi quem procedeu à privatização quase total da PT: 21,74% do capital, em 1996, quase 26%, em 1997, 13,5%, em 1999 e o resto em 2000, ficando, por fim, o Estado com apenas 500 acções em golden share, isto é, com direitos preferenciais sobre as decisões da empresa. António Costa chamará a isto uma privatização inteligente, como, agora, propõe aplicar uma "austeridade inteligente". Isto é, um socialismo que, depois de ter sido metido na gaveta por Mário Soares, abre portas e janelas (as tais, das oportunidades) aos buldózeres da destruição completa dos bens públicos.

Os actuais vendedores do país não tiveram que se esforçar muito para pôr fim a essa golden share, tendo sido uma das  primeiras acções destruidoras, assim que tomaram posse (Conselho de Ministros de Julho de 2011).

Se se pedir responsabilidades a uns e a outros, responderão, vivaços, ou com ar sorna, que se limitaram a cumprir as exigências de Bruxelas, entre as quais, como Burroso nos ensinou lá do alto, da Comissão Europeia -  a "concorrência livre e não falseada". Não dirão que foram eles quem concordou com os tratados que prevêem o desmantelamento e privatização das empresas públicas lucrativas, assinando e apoiando todos os tratados europeus que contemplam esta traição ao país. O Tratado de Lisboa, assinado com pompa e circunstância por Guterres (de quem António Costa foi duas vezes Ministro, é útil não esquecer) foi o penúltimo capítulo e capitulação de Portugal como país independente. O último está no Tratado Orçamental, aprovado à sorrelfa, no Parlamento português, pela maioria de direita, isto é, PS+PSD+CDS.

Resta dizer que, dos países sob ocupação da Troika (Comissão Europeia, presidida pelo patriota Burroso, comprador de submarinos à Alemanha, Banco Central Europeu, presidido por um alto funcionário do banco privado Goldman Sachs, protagonista da trafulhice nas contas públicas da Grécia, e FMI, presidido por uma ex-ministra francesa a contas com a justiça por corrupção e desvio de fundos públicos), Portugal evidencia-se como o melhor sabujo deste bando de delinquentes. A Irlanda e a Grécia, depois de a Troika ter obrigado a privatizar algumas empresas, fizeram questão de guardar, nessas empresas, uma golden share. Ex.: A Public Power Company grega.

Mas, para vermos com mais clareza como a “construção europeia” tem sido feita para destruir as economias dos países periféricos, como Portugal, e pô-los sob o domínio da Alemanha e seus aliados, falta saber que esses países não privatizaram, total ou parcialmente, segundo os casos, os CTT, por exemplo, e detêm uma participação considerável em empresas estratégicas para as respectivas economias. Ex.: Volkswagen, Renault.

É assim que, agora, depois de totalmente privatizada e desvalorizada, os restos da Portugal Telecom irão parar a mãos francesas (segundo tudo indica, pois o especialista em venda do país a retalho, Paulo Portas, já recebeu os interessados, no seu gabinete de ministro), isto é, quem der mais e melhores luvas ao vendedor e intermediários.

Vêm, depois, dizer-nos que não há dinheiro. Pois não há, nem pode haver, se o que dá lucro nos é roubado, obrigando o Estado a endividar-se num crescendo, com emissão de títulos de dívida para pagar apenas juros. Mas é este o objectivo de quem manda na União Europeia e dos seus lacaios nacionais: acorrentarem-nos a uma dívida para todo o sempre.

 

 

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