O QUE ELES ESCONDEM

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

A administração do grupo Controlinveste, proprietário do Diário de Notícias, depois de ter despedido 160 trabalhadores, dos quais 64 jornalistas, nomeou um novo director para o DN, que, certamente para agrado dos patrões, dispensou colunistas de opinião como Baptista Bastos e contratou outros, entre os quais um tal Miguel Angel Belloso, "jornalista" espanhol, que se diz de direita e "liberal", esquecendo-se de colocar os prefixos "extrema" e "neo", respectivamente. Não chegava a merda que o jornal já acoita nas suas páginas, do tipo César das Neves, foi preciso ir buscar uma mierda adicional.

Hoje, não pude evitar escrever, nas caixas de comentário on-line daquele jornal, umas considerações sobre o que este Belloso ali esparramou e que pode ser lido em http://www.dn.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=4211571&seccao=Miguel Angel Belloso&page=-1)

O meu comentário dizia o seguinte:

"Durante o papado de João Paulo II e do seu inquisidor-mor Ratzinger, futuro Bento XVI, os sacerdotes que denunciavam a injustiça social e a repressão política foram perseguidos, uns excomungados pelo Vaticano e outros assassinados, como o jesuíta espanhol Ignacio Ellacuría, reitor da Universidade Centro-Americana de El Salvador, juntamente com outros 5 religiosos; Monsenhor Óscar Romero, abatido quando dizia missa num hospital de religiosas que cuidavam de doentes com cancro. Para o sr. Belloso, aqueles que condenam a exploração predadora do capitalismo são o diabo, aqueles que enriquecem à custa dos outros merecem a beatificação."

Não é de estranhar que estas verdades tenham sido censuradas, não pelos energúmenos que também pululam nas caixas de comentário do DN, mas pelo próprio jornal, visto o meu texto não ter  aparecido, sequer, durante um segundo. E não é de estranhar, já que o DN está nas mãos de bancos e grandes interesses económicos, entre os quais uns angolanos, o BCP, o ex-BES e o genro de Cavaco Silva, Luís Montez.

A actual administração da Controlinveste, saída de uma nova arrumação de capitais do grupo, feita em Novembro de 2013, é liderada por Daniel Proença de Carvalho, o indivíduo com mais cargos no PSI-20 (as 20 maiores empresas portuguesas, cotadas em Bolsa) e o mais bem pago. Foi ele o intermediário dos angolanos na compra de parte da Controlinveste e, até ao rebentar do escândalo BES, era membro da comissão de remunerações daquele banco. Claro, é agora o advogado principal do gatuno e vigarista Ricardo Salgado.

Toda esta gente é quem manda no DN, no Jornal de Notícias, na rádio TSF, etc. Os mesmos ou outros são donos dos restantes grandes meios de informação. Como podem eles estar interessados em que se digam as verdades, como, por exemplo, que foi a mando de capitalistas selvagens como eles que os sacerdotes da Teologia da Libertação foram assassinados ou que foram eles que provocaram a actual crise financeira e que, em vez de estarem na prisão, conseguiram que os governos lhes dessem ainda mais dinheiro e impusessem a austeridade que está a matar pessoas (1) e a pouca democracia que existe?

Esta impunidade só é possível precisamente porque têm ao seu dispor os meios onde repetem, todos os dias e até à saciedade, que se deve salvar os bancos para que a economia não afunde (quando foram os bancos que a afundaram); que o aumento da dívida é o resultado do Estado gastador (apesar de, antes da crise, a dívida ser incomparavelmente menor) ou que andámos a viver acima das nossas possibilidades (quando são eles que enriquecem sugando o Estado, através de contratos de parceria público-privada, swap, fuga aos impostos, fraude fiscal, subsídios vários, sem contar os cerca de 7.000 milhões para o BPN e 12.000 milhões para os restantes bancos, a fim de continuarem a especulação financeira, porque nem um cêntimo está a ir para a economia real).

Isto é, estamos a ser governados por um conjunto de criminosos, através de uns lacaios chamados ministros, a quem eles pagam bem o trabalho mais sujo e visível.


(1) Vários estudos empíricos de David Stuckle e colaboradores calculam que por cada 80 euros cortados por pessoa a desempregados, reformados, famílias e crianças, a mortalidade geral aumenta quase 1% (0,99%), a mortalidade por tuberculose 4,3%, por doenças cardiovasculares 1,2%, por problemas relacionados com o álcool 2,8%. (Ver David Stuckle et al., The public health effect of economic crises and alternatice policy responses in Europe: Na empirical analysis, The Lancet, 2009)


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