É
PREOCUPANTE A BAIXA INFLAÇÃO NA EUROZONA
Por Eduardo Garzón Espinoza*
Considera-se, por isso, que uma inflação moderada (entre 2% e 6%, aproximadamente) é o ideal para um correcto funcionamento da economia, pois os agentes económicos nem atrasarão, nem adiantarão pôr em andamento as suas decisões.
O aumento de preços está a
ser, ultimamente, muito lento nos países que partilham a moeda única e os
dirigentes europeus mostraram já preocupação pelo risco de se entrar numa
deflação. Com efeito, segundo o Fundo
Monetário Internacional, o país que corre mais risco de sofrer deflação é a
Espanha. Daí que seja intensa a pressão que se exerce sobre o Banco Central
Europeu, para que evite um cenário com essas características. Estas
solicitações parecem ter sido escutadas pela entidade europeia, porque o seu
presidente, Mario Draghi, anunciou que, neste mês de Junho, poderia actuar em
consequência.
O que os bancos centrais
costumam fazer para tentar aumentar os preços é criar mais dinheiro e emprestá-lo
aos bancos privados, para que estes o ponham em circulação, mediante
empréstimos às famílias e empresas. Não obstante, isto é algo que, há já algum
tempo, fazem bancos centrais como o do Japão ou o dos Estados Unidos e não
conseguiram evitar o risco de deflação. Porquê? Porque, enquanto os bancos tiverem sérios problemas nos seus balanços e
enquanto a actividade económica não recuperar, os bancos não vão estar nunca
interessados em emprestar dinheiro. Consequentemente, esta política
monetária convencional resultará totalmente ineficaz para aumentar os preços de
bens e serviços.
Contudo, resulta, sim,
eficaz para aumentar os preços dos
activos financeiros, já que o que fazem os bancos com o dinheiro, que lhes
chega dos bancos centrais, é investi-lo em activos financeiros que oferecem
determinadas rentabilidades (como os títulos de dívida pública ou as acções das
empresas). Como consequência, o preço
destes activos aumenta, provocando pequenas bolhas financeiras, que aumentarão
de tamanho, se a tendência prosseguir. Isto é precisamente o que está a
passar-se nos Estados Unidos, depois de vários injecções de dinheiro por parte
do seu banco central e que levou a bolsa de Wall Street a níveis historicamente
altos. Numerosos economistas estado-unidenses denunciam que estas bolhas
financeiras não só beneficiam unicamente uma pequena parte da população (a mais
endinheirada), mas que, também, abrem a porta a futuras crises financeiras.
Além disso, não traduzem, de modo nenhum, uma recuperação económica sólida e
estável.
Se, este mês, o Banco
Central Europeu aplicar medidas semelhantes, como anunciou, encontrar-nos-emos
com uma actividade económica que não recuperará, com preços de bens e serviços
que, tão-pouco aumentarão e, além disso, poderia desencadear-se bolhas
financeiras, que desestabilizariam, ainda mais, a zona euro.
A solução não pode passar
por se levar a cabo estas políticas monetárias convencionais. O que os
dirigentes europeus não querem entender é que uma inflação baixa é consequência da conjunção de um
sobreendividamento dos agentes económicos e a aplicação de medidas de
austeridade (redução de salários, corte na despesa pública, etc.). Enquanto
as empresas e famílias continuarem altamente endividadas (e, por isso,
canalizando o pouco dinheiro que recebem para amortizar da dívida) e enquanto
as políticas de austeridade impedirem as famílias de consumir e as empresas de
investir, a recessão económica continuará. Mas, claro, os credores das dívidas (fundamentalmente, bancos e entidades
financeiras, tanto espanholas como de outros países europeus) verão, pouco a pouco, os bolsos
encherem-se-lhes, que é, no fim de contas, do que se trata.
A única solução possível para esta recessão económica (que tenha em
conta o bem-estar material e social da maioria da população) tem que passar, necessariamente, por uma
reestruturação das dívidas (tanto públicas como privadas – das empresas e
das famílias) e por importantes
estímulos fiscais, que aumentem o rendimento das famílias e empresas. Deste
modo, o Banco Central Europeu deveria utilizar a política monetária, não para
continuar a dar, aos bancos, a oportunidade de prosseguir o negócio, mas para
dar aos Estados europeus o apoio monetário necessário, de forma a que possam
incrementar a despesa pública, com uma margem ampla.
1 de Junho de 2014
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O original encontra-se em Andaluces.es
* Licenciado em Economia e
em Administração e Direcção de Empresas. Membro do Conselho Científico de ATTAC
– Espanha.
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