EURO: INSTRUMENTO DE SUBMISSÃO À
ALEMANHA E AO GRANDE CAPITAL
As últimas medidas do Banco
Central Europeu (BCE) de baixar as taxas de juro para 0,15% e injectar, durante
este ano, 400 mil milhões de euros, nos bancos privados para, segundo diz,
facilitar o crédito às empresas e famílias, não resolverão o problema da
recessão, como explicam Juan Torres López e Eduardo Garzón Espinosa, nos textos
aqui publicados (“Mais dinheiro para a
banca, inutilmente”, “É preocupante a
baixa inflação na eurozona”).
A verdade é que o BCE está a
reagir a uma deflação que se instala na zona euro e, muito particularmente, nos
países sujeitos à prestimosa “ajuda” da troika, como se pode verificar neste
quadro:
2014
|
Portugal
|
Espanha
|
Grécia
|
Janeiro
Fevereiro
Março
Abril
Maio
|
0,059%
0,083%
-0,366%
-0,141%
-0,438%
|
0,199%
-0,017%
-0,146%
0,368%
0,2%
|
-1,470%
-1,150%
-1,348%
-1,348%
-1,960%
|
Fonte: INE e Global Rates
No dia 12 de Junho último, o
jornal Público, por exemplo,
noticiava que “a taxa de inflação em Portugal registou, pelo quarto mês
consecutivo, um valor negativo, acentuando a queda de preços que está a
aumentar os receios de que a economia caia numa situação de deflação” e que “a
taxa de inflação homóloga em Maio foi de -0,4%” (em 2013, era de -0,1%).
No mesmo dia, os jornais
espanhóis chamavam a atenção para o facto de Espanha apresentar, em nove meses
consecutivos, uma inflação abaixo dos 0,5%.
Na realidade, o objectivo do
BCE é travar a deflação, não a pensar na economia, mas 1) na estabilidade das
taxas de câmbio do euro, a favor das grandes empresas, que precisam dessa
estabilidade nos preços em transacções comerciais e financeiras, dentro do
espaço comunitário; 2) em defesa de um euro forte nos mercados internacionais,
beneficiando o capital financeiro europeu, sobretudo o alemão, que poderá
continuar a exportar os excedentes, conseguidos à custa da dívida de países
como Portugal, expandindo-se, através de fusões e aquisições, para outras
partes do mundo e captando a riqueza dos investidores estrangeiros, que se convencerão
a trocar a composição de divisas das suas carteiras a favor do euro (1).
Estas são e foram as
intenções que presidiram à criação da moeda única e do Banco Central Europeu,
erigido em defensor de um euro forte, ao serviço dos grandes negócios do capital
financeiro europeu (o capital produtivo, mesmo o das grandes empresas,
encontra-se totalmente submetido e/ou interligado ao capital financeiro).
Tal como uma inflação alta
ou uma deflação, também o défice e a dívida pública fazem o euro perder valor.
Daí a imposição, através do Tratado Orçamental, de um limite do défice de 0,5%
e de 60% do BIP em dívida pública, com os consequentes cortes nos salários,
pensões, saúde, educação, segurança social, assim como aumento de impostos
sobre o consumo e o trabalho.
Estamos, portanto, amarrados
(até querermos) a uma desvalorização interna, que significa empobrecimento e destruição
da economia, para sustentar uma moeda forte (o euro vale o que valeria 1 marco
alemão), de que a Alemanha se vai servindo para dominar o mercado interno
comunitário e colocar no mercado internacional os excedentes de capital que, desta
forma, está a acumular.
É preciso dizer que estas
políticas têm sido aprovadas pelos diferentes governos (em Portugal, PS – PSD –
CDS), que recusam fazer qualquer referendo sobre estas questões – adesão à
moeda única, Tratado Orçamental, etc. – e apoiam um Banco Central Europeu, que
“só responde perante Deus e a história”(2), porque:
- É “autónomo e
independente”, dizem os seus estatutos. Mas, de quem?
- Está proibido de “solicitar
ou aceitar instruções de organismos, instituições comunitárias ou governos dos
Estados membros”, mas pode, como vemos, dar instruções e ordens aos governos
- Concede empréstimos aos
bancos privados e nega-se a comprar dívida soberana, com os lucros agiotas para
os primeiros e prejuizos colossais para os Estados.
- Põe e dispõe do dinheiro
que é nosso, já que o capital do BCE é composto pelas contribuições que os
bancos centrais nacionais dos países do euro (Banco de Portugal, no nosso caso)
aí depositam.
- Tem como presidente um
alto funcionário do banco Goldman Sachs e seu vice, o grande “socialista”
Constâncio, que, como supervisor do BPN, BCP, etc, segundo as notícias, já
deu sobejas provas, como Draghi, de quem acoberta e ao serviço de quem está.
_____
(1) Lapavitsas, C. Crisis
en la eurozona, Madrid, Capitán Swing, 2013(2) Martín Seco J. F. Contra el euro, Península, 2013
Sem comentários:
Enviar um comentário