MAIS
DINHEIRO PARA A BANCA, INUTILMENTE
Por Juan Torres López*
As medidas que o Banco
Central Europeu anunciou, a semana passada, para que o crédito aumente, dando
mais dinheiro aos bancos, baixando as taxas de juro e penalizando os seus
depósitos, foram recebidas como um marco histórico, mas temo que haja razões
fundamentadas para pensar que não servirão de muito.
É verdade que o crédito ou
não chega às empresas e aos consumidores ou, quando chega, é muito caro, o que
dificulta a recuperação económica. Mas, essa falta de financiamento não
acontece por falta de liquidez. O problema real está na insolvência da economia
no seu conjunto, dos consumidores, empresas e banca. As empresas em actividade
estão menos interessadas em obter mais financiamento do que em
desendividarem-se e o que necessitam as que têm problemas por falta de clientes
é de uma efectiva procura, isto é, que os seus potenciais compradores tenham
mais dinheiro para gastar.
Pode-se adiantar que o Banco
Central Europeu (BCE) não resolverá quase nada, limitando-se a proporcionar
mais dinheiro aos bancos europeus, porque já se comprovou que, assim, não se
aumentam os rendimentos das empresas e consumidores, dos quais depende que haja
despesa. E só o incremento desta última pode fazer com que aumente a
actividade, o emprego e os rendimentos, diminuindo, assim, a insolvência de
consumidores e empresas, que está a afundar a procura e a dificultar o seu
acesso ao crédito disponível. Além disso, para que os bancos emprestem mais, e
mais barato, não só necessitam de liquidez (que já têm de sobra) e de empresas
e consumidores mais solventes, como, também, de mais capital. E o próprio
Graghi reconheceu, em várias ocasiões, durante os últimos meses, que a banca
europeia ainda não saneou os seus balanços (algo que, por certo, corresponde ao
BCE evitar). Portanto, ele sabe, melhor que ninguém, que, enquanto isto for
assim, os bancos não vão dar crédito nem na quantidade, nem na taxa de juro que
a economia europeia necessitaria, para andar para a frente, por muito mais
liquidez que tenham.
Finalmente, a teoria
económica adverte, também, para o pouco êxito que estas medidas terão. Como
assinalou, há muito tempo, o Nobel James Tobin, a ideia de que as coisas podem
funcionar, pondo, de um lado, os assuntos do dinheiro e dos preços e, do outro,
os relativos ao orçamento, aos impostos, emprego e produção, como se vem
fazendo na Europa, é uma falácia.
Países como a Espanha, ou
comunidades como a Andaluzia, faziam bem em desconfiar destas medidas e começar
a pensar em como dispor de fontes de financiamento alternativas para as suas
empresas e consumidores, porque, do actual BCE e do fundamentalismo dos
dirigentes europeus, não lhes virá nada de bom.
___________* Catedrático e investigador no Departamento de Teoria Económica e Economia Política, da Universidade de Sevilha.
O texto original encontra-se
em Ganas de Escribir
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